Uma fonte próxima ao Hamas afirmou nesta quarta-feira (29) à agência de notícias AFP que o grupo islâmico está disposto a estender o cessar-fogo por mais quatro dias.
"O Hamas informou os mediadores que está disposto a prolongar a trégua por quatro dias e que o movimento poderá libertar os prisioneiros israelenses que o grupo, outros movimentos de resistência e outros partidos mantêm em cativeiro durante este período, de acordo com os termos da trégua existente", afirmou a fonte à AFP.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou em uma conferência de imprensa em Bruxelas nesta quarta-feira (29), que o país está fazendo o que pode para estender a pausa, “para que continuemos a retirar mais reféns e a receber mais assistência humanitária”.
“Continuaremos os nossos esforços para evitar que o conflito se espalhe e continuaremos concentrados em permitir a saída segura de cidadãos americanos e outros cidadãos estrangeiros de Gaza”, disse Blinken.
Um acordo inicial estabeleceu quatro dias de pausa nos combates na Faixa de Gaza e foi estendido por mais dois dias, até esta quarta-feira (29), segundo anúncio realizado pelas autoridades do Catar na segunda (28). Nesta terça-feira, quinto dia de trégua, foram libertadas 12 reféns israelenses e 30 prisioneiras palestinas. Ao todo, foram libertadas até terça-feira 63 reféns israelenses e 180 prisioneiras palestinas.
CIA e Mossad participam da discussão
Os chefes das agências de inteligência, dos EUA e de Israel, CIA e Mossad, chegaram a Doha na terça (28) para conversar com autoridades do Catar com o objetivo de estender o acordo de trégua no conflito entre Israel e Hamas. O diretor da CIA, William J. Burns, o chefe do serviço de inteligência israelense Mossad, David Barnea, e o primeiro-ministro do Catar, Mohammed Bin Abdulrahman al-Thani, reuniram-se com autoridades egípcias para discutir a prorrogação do acordo.
Segundo informações do jornal The Washington Post, Burns pressiona para que o Hamas e Israel aumentem o foco das suas negociações sobre reféns, até agora limitadas a mulheres e crianças, para abranger também a libertação de homens e militares.Ele também busca uma pausa mais longa de vários dias nos combates, ao mesmo tempo em que leva em conta a exigência israelense de que o Hamas liberte pelo menos 10 pessoas por cada dia que haja uma pausa na guerra.
Contexto
O cerne da questão árabe-israelense é a forma como o Estado de Israel foi criado, em 1948, com inúmeros pontos não resolvidos, como a esperada criação de um Estado árabe na região da Palestina, o confisco de terras e a expulsão de palestinos que se tornaram refugiados nos países vizinhos.
A decisão pela criação dos dois estados foi tomada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) e aconteceu sem a concordância de diversos países árabes, gerando ainda mais conflitos na região.
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Ao longo das décadas seguintes, a ocupação israelense nos territórios palestinos – apoiada pelos EUA – foi se tornando mais dura, o que estimulou a criação de movimentos de resistência. Foram inúmeras tentativas frustradas de acordos de paz e, na década de 1990, se chegou ao Tratado de Oslo, no qual Israel e a Organização para Libertação da Palestina se reconheciam e previam o fim da ocupação militar israelense.
O acordo encontrou oposição de setores em Israel – que chegaram a matar o então premiê do país – e de grupos palestinos, como o Hamas, que iniciou sua campanha com homens-bomba. Após a saída militar israelense das terras ocupadas em Gaza, ocorreu a primeira eleição palestina, vencida pelo Hamas (2006), mas não reconhecida internacionalmente. No ano seguinte, o Hamas expulsou os moderados do grupo Fatah de Gaza e dominou a região.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou sua maior operação até então, invadindo o território israelense e causando o maior número de mortes da história do país, 1,4 mil, além de fazer cerca de 200 reféns. A resposta israelense vem sendo brutal, com bombardeios constantes que já causaram a morte de milhares de palestinos, além de cortar o fornecimento de água e luz, medidas consideradas desproporcionais, criticadas e rotuladas de "massacre" e "genocídio" por vários organismos internacionais.
*Com informações de Al Jazeera, Diário de Notícias e The Washington Post
Edição: Leandro Melito