Em 6 de outubro de 2018, um dia antes do primeiro turno das eleições, uma equipe da Polícia Federal que estava destacada para trabalhar nas eleições no interior do Maranhão se deparou com um grupo de três homens com uma sacola com R$ 5,8 mil em espécie e materiais de campanha do então candidato a deputado Federal André Fufuca (PP-MA).
Ao ver os policiais, um dos homens jogou a sacola de dinheiro em um bueiro. O caso, revelado pelo Brasil de Fato, trouxe à tona um grupo de pessoas, entre servidores públicos, empresários locais e apoiadores que conversavam abertamente em grupos de Whatsapp sobre compra de votos e valores às vésperas do primeiro turno das eleições daquele ano.
Além dos três homens, no dia seguinte, a PF também identificou um servidor público de Santa Luzia que, ao ver os policiais, abandonou o carro em que estava e entrou em um veículo que estava a serviço da Justiça Eleitoral para “pedir carona”. O caso chamou a atenção dos agentes que, ao revistarem o veículo onde ele estava, encontraram R$ 2,5 mil em espécie e santinhos do então candidato e hoje ministro do Esporte indicado pelo centrão, André Fufuca.
Todos os quatro homens flagrados naquele fim de semana das eleições foram prestar depoimento para a Polícia Federal. Nenhum trabalhou oficialmente para a campanha de André Fufuca naquele ano. Mas, diante das contradições e inconsistências dos depoimentos, além de todo o material e dinheiro apreendidos, a Polícia Federal abriu investigação.
Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, o ministro do Esporte, André Fufuca, afirmou que "não compactua com qualquer ato ilícito, não é responsável por ação de terceiros e confia que a justiça vai esclarecer todos os fatos"
Confira abaixo o que disseram à PF todas as quatro pessoas flagradas com dinheiro e material de campanha de André Fufuca no fim de semana das eleições:
Marcus Vinícius Sales
O empresário, que é produtor de eventos, admitiu ser o dono do dinheiro em espécie encontrado naquela noite. Em sua versão, porém, a quantia seria para pagar bandas que havia contratado e parte dela, inclusive, teria vindo de uma farmácia de sua sogra. Ele negou trabalhar para a campanha de André Fufuca, mas afirmou que Francisco Vieira, que estava com eles, trabalhava para o parlamentar. Ele ainda negou conhecer "Dona Vanda", a dona da residência na qual a PF localizou os três do lado de fora.
Francisco Vieira da Silva (No depoimento escrito, o escrivão registrou o sobrenome errado)
O empresário, dono de uma loja de carros na região, disse que trabalhava "sem contrapartida financeira" para a campanha de Fufuca, apenas por "amizade" mas que não possuía nenhuma função na campanha. Questionado pela PF sobre a "coincidência" de haver vários carros com material de campanha de Fufuca, inclusive o dele, na residência de Vanda na véspera da eleição, Francisco disse que se trava de "uma reunião de amigos".
Caio Vieira da Silva
Então com 18 anos, Caio Vieira da Silva disse que "passeou" com Marcus Vinícius pela manhã em Santa Inês, e que à noite foram para Santa Luzia jantar em uma churrascaria. Ele afirmou que o dinheiro era do empresário para pagar bandas e que o material de campanha de Fufuca encontrado na caminhonete estava nela havia dias.
Josiel Sousa Silva (servidor público flagrado no dia 7 de outubro pela PF)
Josiel afirmou à PF ser um agente comunitário de saúde do programa Saúde da Família, e que nunca trabalhou em campanhas eleitorais. Admitiu que estava com R$ 2,5 mil no bolso ao sair da casa do pai de um ex-prefeito do município naquele dia. Afirmou que o dinheiro seria referente à venda de um cordão de ouro que teria ocorrido na semana anterior e, ao ser questionados sobre os santinhos que estavam no carro que dirigia, afirmou que não os tinha visto. A PF ainda perguntou por que ele estacionou a caminhonete que estava dirigindo na rua após ver uma abordagem da polícia em outro veículo e foi pegar carona em um carro que estava a serviço da Justiça Eleitoral, e ele afirmou que "optou por conta própria deixar o veículo em frente ao fórum e passou a se deslocar por meio de carona".
Edição: Rodrigo Durão Coelho