MASSACRE EM GAZA

Forças rebeldes do Iêmen assumem autoria de ataques a navios 'associados a Israel'

Departamento de Defesa dos EUA confirmou que navio destroyer interceptou dois drones do grupo Ansarullah

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O destroier USS Carney no Mar Mediterrâneo, em 23 de outubro de 2018 - Marinha dos EUA

As forças rebeldes do governo em exercício no Iêmen, conhecidas como Houthis ou Ansarullah, reivindicaram neste domingo (03/12) a responsabilidade por ataques com mísseis e drones contra navios cargueiros dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Em uma declaração oficial, o movimento Houthi confirmou o ataque aos navios "Unity Explorer" e "Number Nine" na costa do Iêmen no Mar Vermelho, acrescentando que "o primeiro navio foi atacado com um míssil naval e o segundo navio com um drone naval".

A declaração militar do Iêmen disse que "a operação de ataque ocorreu depois que os dois navios rejeitaram as mensagens de aviso dos rebeldes Houthi".

“As forças armadas do Iêmen continuarão impedindo a navegação de navios israelenses nos mares vermelho e árabe até que cesse a agressão israelense contra nossos irmãos na Faixa de Gaza”.

Nesse sentido, a declaração oficial continua dizendo que "as Forças Armadas do Iêmen renovam seu aviso a todos os navios israelenses ou associados a israelenses de que eles se tornarão um alvo legítimo se violarem as disposições desta declaração e de declarações anteriores emitidas pelas Forças Armadas do Iêmen".

Ao mesmo tempo, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos informou que o destroier USS Carney interceptou dois drones em sua direção enquanto respondia a um sinal de socorro de um dos navios visados. 

"Estamos cientes de relatos de ataques ao USS Carney e a navios comerciais no Mar Vermelho e forneceremos informações assim que estiverem disponíveis", disse o Pentágono.

No início de novembro, essas mesmas forças militares iemenitas apreenderam um navio de transporte de veículos também vinculado a Israel no Mar Vermelho, na costa do Iêmen, e ainda o mantém próximo à cidade portuária de Hodeida. Mísseis também caíram perto de outro navio de guerra dos EUA na semana passada, depois que ele prestou assistência a uma embarcação ligada a Israel que havia sido capturada por homens armados.

Nos últimos oito anos, a situação militar geral no Iêmen permaneceu praticamente inalterada. O movimento Houthi, oficialmente conhecido como AnsaruAllah (AA), governa cerca de dois terços da população do Iêmen que vive num terço do seu território. Uma grande ofensiva Houthi para tomar a província e a cidade de Marib, que começou no início de 2020, continuou sendo a principal frente militar até à trégua de 2022.

Isso foi importante porque o êxito nessa região teria dado à AA o controle sobre o último reduto do norte do governo internacionalmente reconhecido (IRG), bem como sobre uma das principais fontes de hidrocarbonetos do país, em especial o gás. 

Desde o assassinato do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, em 2017, por seus antigos aliados houthis, o grupo AnsaruAllah tem o controle total e exclusivo da maior parte da população do Iêmen. Os membros de outros partidos nessas áreas são meros "símbolos" incapazes de expressar qualquer opinião diferente da do movimento Houthi que é dominante.

As diferentes tendências políticas dentro do movimento Houthi são mantidas sob controle da autoridade máxima de Abdul Malik al- Houthi, líder do AA. É provável que as tensões e a dissidência interna venham à tona se eles sofrerem reveses militares.

O sofrimento dos iemenitas aumentou à medida que a economia iemenita continuou em colapso com o agravamento do domínio de Hodeidah e de outros portos. O PIB do país diminuiu em 50%.

O bloqueio dos portos do Mar Vermelho e a guerra econômica tem sido a principal causa do agravamento das condições de vida da população em geral. Além da manipulação do abastecimento e dos preços dos combustíveis, a mudança da sede do banco central do Iêmen pelo IRG tem sido a principal arma da guerra econômica.

Isto levou à interrupção do pagamento de salários a cerca de 1,2 milhões de funcionários públicos, a maioria dos quais têm sido pagos de forma intermitente desde então, com uma média de cerca de meio mês de salário em intervalos de poucos meses. Para ajudar o IRG a financiar a importação de bens de primeira necessidade, uma grande política destinada a estrangular financeiramente os Houthis tem sido a impressão de moeda pelo IRG. Isto levou a uma divergência cada vez maior no valor da moeda iemenita entre as áreas controladas pelos Houthi e o resto do país. As questões ambientais também desempenham um papel importante na deterioração das condições de vida da população. Em 2020, 2021 e 2022, ocorreram inundações devastadoras em muitas partes do país, numa escala sem precedentes. É provável que esta tendência se torne mais frequente.

Tendo suportado mais de oito anos de destruição militar, colapso econômico, desintegração das infraestruturas sociais, a grande maioria dos 30 milhões de habitantes do Iêmen foi reduzida ao desespero e a miséria. Mesmo que um acordo de “paz” seja alcançado a curto ou médio prazo, os iemenitas terão de tentar restaurar condições de vida aceitáveis num ambiente político, social e econômico regional extremamente hostil e difícil.

Este ano a ONU chegou a pedir mais de 4 milhões de dólares em financiamento de ajuda humanitária para 2023. Com muitas exigências concorrentes para esse tipo de financiamento noutras partes do mundo, é provável que os compromissos fiquem bem abaixo dos requisitos. Um apelo para um montante semelhante em 2022 atingiu apenas 52% da meta – o nível mais baixo desde o início da crise.

O grupo Houthi, agora, enfrenta além dos problemas domésticos e internos, a guerra em curso na Palestina. Os Houthis vem assumindo ações militares contra navios israelenses ou com conexões com Israel, e subiu o tom com as demais nações que dão suporte a Israel. Considerando que eles foram combatidos por uma coalizão de Estados árabes há pouco tempo, demonstram força e capacidade de prestar apoio ao Harakat (Hamas).