Três ativistas populares interromperam um painel da COP28 nesta segunda-feira (4) do qual participavam representantes do governo federal brasileiro e da empresa Vale. A mineradora é responsável pelos desastres de Mariana e Brumadinho em Minas Gerais, que resultaram em quase 300 mortes e afetaram mais de 350 mil pessoas.
Diante de dezenas de espectadores, lideranças negras e indígenas deixaram os painelistas sem reação ao denunciar a falta de consideração às populações vulneráveis nas discussões climáticas. A ação foi gravada e publicada nas redes sociais.
“Vocês falam de transição energética, vocês falam de preservação do planeta, mas são vocês que colocam a vida em extinção, são vocês que ameaçam o nosso território. E aí não dão nem a oportunidade de ouvir as pessoas que estão aqui”, disse Thiago Guarani, da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo (SP).
A representante da Vale no painel da COP28 era Ludmila Nascimento, diretora de Energia e Descarbonização da mineradora. A discussão era mediada por Thiago Barral, Secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia. Outras ONGs e institutos também participavam, mas sem representantes diretos das populações tradicionais e originárias dos biomas.
Luciana Souza, da rede Vozes Negras pelo Clima, cobrou a representante da Vale pela devastação da bacia do Rio Doce. “Por favor, Ludmila, faça pelo menos uma cara triste, porque sua cara é de extremo deboche com a nossa dor”, disse.
Em 2015, a barragem do Fundão rompeu em Minas Gerais. 50 milhões de toneladas de lama tóxica devastaram tudo e todos pelo caminho, chegando até o Espírito Santo, onde o veneno da mineração acabou com o setor de pesca artesanal.
“Eu sou do Espírito Santo, da calha do Rio Doce, há mais de 1 milhão de atingidos, e a Vale não fez a indenização”, bradou Luciana Souza.
Painel discutia 'pluralidade' sem representantes das populações
O painel escolhido pelos manifestantes tinha como tema “Política Nacional de Transição Energética do Brasil sob diferentes perspectivas: setor público, privado e sociedade civil”. A chamada do evento diz que a “pluralidade de atores” é a “chave para alcance dos resultados”.
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“Não queremos demagogia e hipocrisia, mas queremos participar diretamente das decisões. Não [queremos apenas] ser consultados como estatísticas, nem queremos empregos industriais ou capitalistas. Nós queremos viver conforme a nossa história, a nossa percepção de território e de tecnologias ancestrais”, disse Camila Aragão, da Rede Vozes Negras pelo Clima.
Ainda diante da multidão e dos painelistas paralisados, a outra representante da Rede Vozes Negras pelo Clima reafirmou: “O povo não é minoria. Nós somos minorizados pelo sistema capitalista. Nós somos a maioria. E, se democracia quer dizer povo e que o poder emana do povo, não é isso que a gente está vendo nessa COP”, disse Luciana Souza.
Edição: Rebeca Cavalcante