Desafio

Nações correm contra o tempo para fechar acordo antes do fim da COP28

Conferência do clima acontece em Dubai até o próximo dia 12; observadores apontam que conclusão ainda parece distante

Brasil de Fato | Dubai (Emirados Árabes Unidos) |
Manifestantes durante a COP28, em Dubai - Giuseppe Cacace/AFP

A segunda e última semana da COP28 em Dubai começou nesta sexta-feira (8) com o desafio histórico de chegar a um acordo final entre as nações ainda no período de realização do encontro. A conferência global do clima acontece até o próximo dia 12 de dezembro e a pressão para um consenso vem de todos os lados.

Até as afirmações mais recentes do polêmico presidente da COP28, Sultão Ahmed Al Jaber, sinalizam pressão para a finalização das negociações no prazo do evento. Ele atua como enviado especial dos Emirados Árabes Unidos para Mudanças Climáticas e ministro da Indústria e Tecnologia Avançada. Al Jaber também é CEO da Abu Dhabi National Oil Company, empresa estatal de petróleo da região.

Antes da COP, ele chegou a declarar que não havia evidências científicas de que a eliminação progressiva de combustíveis fósseis não teria impacto no controle do aquecimento global. Dias depois, teve que se retratar e afirmou que eliminação do uso desses recursos é inevitável.

 

— Brasil de Fato (@brasildefato) December 8, 2023

Fechar acordos durante a conferência é um feito raro. Normalmente, as definições finais acabam ficando para depois, frente aos entraves e à diversidade de opiniões entre diferentes países. No entanto, encerrar o encontro em grande estilo parece ser uma das metas dos Emirados Árabes.

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Em Dubai, é perceptível o esforço para que a Conferência seja um marco. A cidade – já conhecida pela opulência, pelo apego à perfeição e à riqueza – se vestiu de sustentabilidade desde o fim de novembro. Nesta sexta-feira, Al Jaber, afirmou para uma plateia de autoridades: "Vamos, por favor, concluir este trabalho".

No entanto, observadores e observadoras das discussões em torno de um acordo final mostram que os debates não parecem caminhar para uma solução em curto prazo. A palavra consenso aparece muito pouco. Nos bastidores, é comum ouvir que os textos mudam muito e em velocidade recorde. Alguns, inclusive, ainda nem foram iniciados.

O debate vai desde quais terminologias e palavras podem ou não ser usadas, até quanto, como e de onde virão os investimentos trilionários necessários para a transição energética, principalmente para as nações em desenvolvimento. A plataforma internacional Carbon Brief monitora as discussões em tempo real. Na noite desta sexta-feira, quatro dias antes do fim do evento, apenas 5% dos textos tinham algum acordo. Todo o restante está em rascunho ou nem mesmo existe.

E o Brasil?

Em agenda diária no evento, a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva (Rede), cumpre compromissos com outras nações, movimentos populares e lideranças globais. Ainda não está claro que tipo de pressão o país vai optar por exercer para os acordos finais.

Mas, nesta sexta-feira, a ministra disse que os próximos dias representarão uma longa jornada e serão determinantes.

"Vamos ter que persistir em temas que são bastante complexos, mas que precisam de respostas. O alinhamento em 1,5 (grau de aquecimento global máximo), os meios para implementar essa decisão, os recursos para perdas e danos, adaptação e mitigação", pontuou Marina Silva.

A ministra reforçou que não é possível enfrentar o problema negando a influência do uso do petróleo no aquecimento global. "Sobretudo, que se possa sair daqui com reconhecimento claro de que o principal problema da mudança do clima tem a ver com a emissão de CO2 por uso de combustível fóssil. Se sairmos daqui com essa clareza e com o compromisso de fazer esse debate com senso de responsabilidade, tanto por parte de países produtores de petróleo quanto de países consumidores, podemos dizer que podemos ter esperança. Nosso compromisso é para que o debate seja feito reconhecendo o problema. A ciência está dizendo isso há muito tempo. Não podemos continuar com uma visão negacionista."

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As esperanças de um feito inédito na conferência, continua norteando as ambições dos Emirados Árabes. Nesta sexta-feira, horas antes das declarações dadas pela ministra, o Sultão Ahmed Al Jaber, afirmou: "Dada a abordagem que adotámos, permitam-me dizer que, a vontade política, o apoio da liderança do país anfitrião, a nossa capacidade de convocar o que todos estamos vivendo aqui em Dubai na COP28 e a nossa capacidade de receber resposta positiva esmagadora dos ministros ao meu lado – ajudando-nos a impulsionar a ambição máxima – estou bastante confiante de que algo especial sairá desta COP".

*A repórter viajou para a COP28 a convite da Fundação Rosa Luxembrugo

Edição: Nicolau Soares