Robert Kennedy Jr., sobrinho de John F. Kennedy, o ex-presidente, e filho de Robert Kennedy, que quase foi chefe do Executivo dos EUA, quer ocupar o Salão Oval e destronar o atual mandatário, Joe Biden.
Em abril deste ano, ele se lançou candidato nas prévias democratas, mas abandonou a corrida já em outubro. Agora, ele quer disputar a vaga como independente. As chances de vitória, porém, são mínimas.
“Não é dizer que um candidato de terceira via não possa vencer uma eleição nos EUA, mas o sistema do Colégio Eleitoral faz com que seja muito improvável que um candidato à presidência seja qualquer coisa mais do que parte do debate”, afirmou o professor Stephen Farnsworth, da Mary Washington University ao Brasil de Fato.
Candidatos de terceira via podem mudar tudo
Ainda que um candidato independente tenha poucas chances de ganhar a eleição, ele ainda pode influenciar, e muito, no resultado. Na história política dos EUA, existem alguns episódio onde isso aconteceu.
A candidatura independente de George Wallace, um democrata conservador e racista, pró-segregação, em 1968, é tida como fundamental pra vitória de Nixon. Wallace tirou votos do democrata Hubert Humphrey em uma espécie de vingança pela aprovação da Lei dos Direitos Civis.
Em 1992, Ross Perot teve um papel semelhante na vitória de Bill Clinton sobre George Bush pai. O candidato de terceira via não ganhou um delegado sequer, mas teve quase 19% dos votos, na maioria votos que iriam para Bush.
Ralph Nader, um candidato nanico, é visto como um dos grandes responsáveis pela derrota de Al Gore em 2000. A eleição foi decidida por 537 votos na Flórida.
“Ralph Nader recebeu aproximadamente 90 mil votos na Flórida, e a diferença entre Gore e Bush na Flórida foi de aproximadamente 600 votos. A maioria dos eleitores do Nader teria escolhido Al Gore como segunda opção contra o Bush, a gente sabe isso pelas pesquisas”, explica Farnsworth.
O professor continua: “então, Al Gore teria sido eleito presidente em 2000 se Nader não tivesse concorrido. A verdade é que esse é o impacto que esse tipo de candidatura independente tem”.
Efeito Kennedy preocupa Biden
Pesquisa recente da agência de notícias Reuters com o IPSOS mostra que o efeito Kennedy poderia atrapalhar Biden. Sem Kennedy na disputa, Biden está abaixo de Trump com 2 pontos a menos, mas lidera nos 7 estados mais disputados entre eleitores que dizem ter certeza que votarão. Ou seja, um cenário onde Biden venceria a eleição, mesmo perdendo no voto popular.
A pesquisa foi feita antes da decisão da Justiça do Colorado que decidiu que Trump não pode concorrer às eleições presidenciais no estado. A Suprema Corte dos EUA decide no começo do ano se ex-presidente poderá concorrer novamente ao posto em 2024.
Quando Kennedy entra na disputa, porém, a liderança de Trump sobe para 5 pontos em relação a Biden e o republicano lidera em todos os 7 estados mais disputados. Ou seja, com Kennedy, as chances de vitória de Trump aumentam.
RFK Jr. se diferencia muitos dos democratas, sobretudo no tema da saúde. Ganhou muita atenção durante a pandemia por ser um grande defensor do movimento anti-vacina. Ainda assim, o nome Kennedy carrega parte do eleitorado democrata, sobretudo de eleitores mais velhos.
Outros possíveis candidatos
Mas Kennedy pode não ser a únic candidatura independente. Recentemente Joe Manchin, o mais conservador dos senadores democratas, saiu do partido. Ele afirma que não descarta concorrer de forma independente à Casa Branca.
Manchin se aliou por diversas vezes aos republicanos e se opôs a uma série de propostas de Biden nos últimos anos. Por isso, não é possível dizer ser ele roubaria mais votos dos democratas ou da oposição.
Ainda que Manchin pudesse tirar votos que iriam para o candidato republicano - muito provavelmente Donald Trump - não é possível afirmar seria um volume que faria alguma diferença na balança de poder nos estados pêndulo, os que tradicionalmente decidem o pleito.
“Se você olhar para o candidato do lado republicano, dentro do processo das prévias republicanas, que vem sendo o mais anti-Trump, o Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey, ele mal está conseguindo participar dos debates. Ele não tem muito apoio. E essas pessoas talvez sejam apoiadoras naturais de Joe Manchin caso Trump seja o nomeado”, afirma Farnsworth, “mas não existem muitos deles, e esse é o problema”.
Outra possível candidatura que pode ter efeito na provável disputa entre Biden e Trump é a de Liz Cheney. Filha de Dick Cheney, vice de George Bush filho, ela se tornou uma das principais figuras anti-Trump do Partido Republicano.
Recentemente, a ex-deputada por Wyoming, que viu sua carreira ser enterrada por retaliação do ex-presidente, afirmou que considera ser candidata com o objetivo de evitar que Trump volte à Casa Branca.
“Se Cheney de fato concorrer, eu esperaria vê-la, na maior parte do tempo, nos estados pêndulo, tentando conquistar aqueles eleitores que não gostam muito do Trump, que gostariam de ver o partido superar Donald Trump”, diz o professor.
Neste cenário, o professor de ciências políticas dá um exemplo de que “talvez ela consiga 100 mil votos em Michigan e vire o estado pra Biden”.
Mas Cheney nem precisaria de 100 mil votos para garantir uma vitória de Biden no exemplo de Michigan. Em 2016, Trump levou os delegados do estado com uma margem de menos de 11 mil votos sobre Hilary Clinton. Ou seja, qualquer voto perdido conta.
Terceira via influencia, mas não decide a eleição
Para Stephen Farnsworth, não é possível prever com exatidão o efeito dessas possíveis candidaturas. Outros temas devem ter um peso ainda maior na disputa do ano que vem.
“Se você puder me dizer o índice de desemprego no próximo outubro, qual é a solução para o conflito no Oriente Médio, para a guerra na Ucrânia, nessa época do ano que vem… se puder me dizer qual será o preço da gasolina daqui a um ano… Se responder a todas essas questões, você pode fazer uma fortuna no mercado de ações e dizer quem será o próximo presidente, porque essas são as coisas que farão a diferença”, brincou o professor.
Edição: Rodrigo Durão Coelho