Na manhã desta quinta-feira (28), 300 famílias que ocupam um terreno no bairro Parque Anhanguera foram surpreendidas por uma ação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo com o apoio da Polícia Militar, sem ordem judicial. Desde o último 16 de dezembro as famílias, organizadas pelo Grupo Pirituba Sem Teto e a Frente de Luta por Moradia (FLM), vivem na área particular que, segundo elas, estava há 50 anos sem cumprir sua função social.
De acordo com moradores da ocupação, batizada de “Quintal da resistência”, guardas civis entraram na área por trás às 6h, jogaram spray de pimenta e, com uma retroescavadeira, derrubaram barracos. Um grupo de pessoas ficou impedida de entrar na área e, em protesto contra a repressão, travou a rodovia Anhanguera por cerca de 40 minutos. “Um dos nossos meninos sofreu opressão da polícia, saiu sangrando”, conta Leandro*, morador da ocupação.
Por volta das 10h15 as forças de segurança se retiraram da área. “Saíram quando chegaram o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT) e o coordenador da FLM Osmar Borges, que já tinham uma visita agendada no acampamento”, afirma Leandro.
Spray de pimenta e barracos destruídos
“Os GCMs chegaram aqui já oprimindo as pessoas, destruíram barracos, levaram um caminhãozinho com algumas coisas. Já foram tacando spray de pimenta, até nas crianças”, relata Telma*, outra integrante da Ocupação “Quintal da resistência”. “Muitas famílias já saíram das casas onde moravam de aluguel e estão morando aqui, não tem mais para onde ir”, descreve.
Procurada, a subprefeitura de Pirituba, comandada por Marcos Zerbini (PSDB), informou que o episódio não foi uma tentativa de despejo. “Foi uma ação fiscalizatória para impedir o parcelamento irregular do solo, retirada de demarcações, piquetes e estruturas de futuros barracos”, disse.
Em nota, o órgão – que integra a gestão municipal do prefeito Ricardo Nunes (MDB) - afirmou que a ação “está amparada no poder de polícia da subprefeitura”.
O Brasil de Fato também pediu um posicionamento para a Secretaria de Segurança Pública do governo estadual, sob gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas não teve resposta até o fechamento da matéria. Caso a pasta queira se manifestar, o espaço segue aberto.
“A gente não está demarcando nem vendendo lote de terreno nenhum. Eles disseram que derrubaram porque tinha barraco vazio, mas tinha gente morando, tinha sofá, tinha cama dentro das casas”, contesta Leandro. “A gente está ocupando para reivindicar nosso direito à moradia”, resume. Segundo ele, as famílias permanecerão na área até que sejam resolvidas suas demandas habitacionais.
*Nome alterado para preservação da fonte.
Edição: Rebeca Cavalcante