balanço positivo

PIB em alta, inflação sob controle e dólar em queda: economia do Brasil supera expectativas no ano 1 de Lula 3

Atividade econômica cresceu mais do que o previsto sem que isso causasse alta de preços

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Indicadores econômicos de 2023 são melhores do que as previsões feitas no início do ano
Indicadores econômicos de 2023 são melhores do que as previsões feitas no início do ano - Agência Brasil

A economia brasileira vai terminar o ano de 2023 bem melhor do que os economistas ligados ao mercado financeiro esperavam. O primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio da Lula da Silva (PT) foi de crescimento acima do previsto, inflação mais baixa e balança comercial mais favorável que o projetado.

O desempenho acima das expectativas está registrado em indicadores econômicos já divulgados até aqui e também em expectativas divulgadas neste mês para os resultados que ainda serão consolidados até o final do ano. Os dados contrastam com estimativas divulgadas ao final de 2022.

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Essas estimativas –hoje, comprovadamente subestimadas– foram coletadas pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus. Para a elaboração do boletim, o BC consulta economistas de bancos semanalmente.

Miguel de Oliveira, economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirmou que a maioria dos seus colegas desconfiava das políticas econômicas de Lula. Eles também resistiam à indicação de Fernando Haddad (PT) ao Ministério da Fazenda. Esse sentimento acabou refletido no pessimismo exagerado sobre 2023 –algo que demonstrou-se infundado. “Havia uma expectativa muito negativa dos agentes, que esperavam o pior”, disse.

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Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembrou que o agronegócio brasileiro e a Petrobras puxaram o crescimento econômico nacional. “Não dá para negar o impacto desse setor primário”, afirmou.

Fausto Augusto Júnior, sociólogo e diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), acrescentou que o aumento real do salário mínimo e a consolidação do Bolsa Família em R$ 600 garantiram uma capacidade mínima de consumo para a população. Contribuíram, portanto, com uma atividade econômica bem acima daquela esperada pelo dito “mercado”.

Crescimento

Economistas de bancos e corretoras de investimentos estimavam no final de 2022 que a economia brasileira cresceria 0,8% em 2023. Isso está registrado na edição de 30 de dezembro do ano passado do Boletim Focus divulgado pelo Banco Central. De janeiro a setembro deste ano, contudo, o Produto Interno Bruto (PIB) já cresceu 3,2% ante o mesmo período do ano passado, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os mesmos economistas de bancos esperam que o crescimento feche o ano em 2,9%.

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Inflação

O Boletim Focus de 30 de dezembro de 2022 informava que economistas de bancos esperavam que a inflação ficasse em 5,31% ao final deste ano –ou seja, fechasse o ano acima do teto da meta para o índice, que é de 4,75% ao ano. Nos últimos 12 meses encerrados em novembro, o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula variação de 4,68%, segundo o IBGE. Os economistas estimam, agora, que a inflação feche 2023 em 4,46% –ou seja, dentro da meta, algo que não acontece desde 2020.

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Dólar

Economistas de bancos esperavam que o dólar fechasse o ano cotado a R$ 5,27. A moeda estadunidense vale menos de R$ 5 desde o final de outubro. Em novembro, chegou a baixar a R$ 4,84 e hoje está cotada em cerca de R$ 4,90.

Balança comercial

O saldo das exportações já descontadas as importações foi estimado em 58 bilhões de dólares para o final de 2023. Até o último dia 25, ele já havia chegado a quase 96 bilhões –65,5% a maior que a previsão.

Emprego não decola

Apesar de todas essas “surpresas positivas”, o primeiro ano do governo Lula também ficará marcado por um crescimento menor da geração de emprego formal. Até novembro, haviam sido criados cerca de 1,9 milhão de postos de trabalho com carteira assinada no país. Isso é menos dos 2,7 milhões gerados no mesmo período de 2021 –ano da retomada pós-pandemia– e menos também que os 2,3 milhões criados em 2022.

O nível de desemprego, é verdade, recuou ao menor nível desde 2015, segundo o IBGE –o que é bom. Isso se deveu, principalmente, pelo crescimento do trabalho informal.

Esse trabalho paga salários menores e, por consequência, acaba contribuindo menos para que a economia cresça de forma sustentável.

“Estamos vivendo um típico processo de desindustrialização”, alertou o economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A gente gerou muito emprego no setor de serviços, em geral de baixa qualidade, que exige pouca qualificação. Esse setor não consegue difundir a renda para outros setores”, acrescentou.

Fausto, do Dieese, ressaltou que o governo Lula tem projetos para tentar reindustrializar o Brasil. Os resultados de iniciativas como essa levam, contudo, anos para aparecer. Para ele, o governo deveria trabalhar também para tornar “menos piores” os empregos informais existentes hoje.

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Fausto lembrou que 1,5 milhão de pessoas trabalham para aplicativos. O governo se comprometeu a tentar regular esse tipo de serviço. Chegou a montar um grupo de trabalho para estudar o assunto. Até hoje, porém, não apresentou sua proposta para o tema.

A chamada Contrarreforma Trabalhista, que revisaria a reforma de 2017, também não saiu do papel. Sem ela, há dúvidas se o Brasil vai gerar empregos de qualidade mesmo que o cresça em 2024.

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Expectativa para 2024

Economistas ligados a bancos estimam que a economia nacional crescerá 1,5% no ano que vem –isto é, cerca da metade do verificado neste ano. Fausto acha que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e outras iniciativas do governo para reativar o investimento público podem sustentar um avanço de 3% do PIB em 2024.

Pedro Faria, economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressaltou que o endividamento das famílias e empresas têm caído ao longo de 2023. O percentual de famílias endividadas caiu de 78,9% para 76,6%, segundo pesquisa mensal da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

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Menos endividadas, essas famílias –e também empresas– poderão retomar o consumo e o investimento no ano que vem. Isso tende a contribuir com a economia no ano que vem.

Edição: Rebeca Cavalcante