A eleição do município de São Paulo tem projeção nacional, nós sabemos. O tamanho da população, a importância de sua economia na indústria, comércio e serviços, palco de grandes manifestações de massas, a projeção de figuras políticas, o maior orçamento de uma prefeitura no Brasil, entre outros motivos, dão às eleições do município visibilidade nacional.
Em 2022, Lula ganhou na cidade. Foram 53,54%, contra 46,46%. A vitória reacendeu a esperança de reconquistar a prefeitura pelo campo democrático-popular. No âmbito legislativo, o PT, que tem hoje 8 parlamentares, já teve 11 em em 2008 e 2012; o Psol tem expectativa de crescimento da sua bancada com a candidatura única ao Executivo dentro da esquerda (elegeu 1 parlamentar em 2012 e 6 em 2020). Enquanto que o PCdoB tenta recuperar uma vaga no legislativo paulistano, não tendo eleito nenhum representante nas últimas eleições.
O Partido dos Trabalhadores não terá candidato na cidade. Pela primeira vez desde a redemocratização, o maior partido dos últimos 40 anos da esquerda na cidade não terá candidato ao executivo. A decisão se deve ao compromisso estabelecido em 2022 e ao desempenho de Guilherme Boulos nas eleições de 2018, de 2020 quando foi para o segundo turno nas eleições municipais, e na eleição para deputado federal quando obteve mais de um milhão de votos, legitimando a candidatura unificada dentro do campo progressista.
A tese da Frente de Esquerda será testada nas eleições de 2024 no município de São Paulo. PV, PDT, Rede, PCdoB, Psol e PT, os movimentos populares e sindicais estarão juntos para eleger Guilherme Boulos prefeito.
A disputa não será fácil. De um lado, o atual prefeito (Ricardo Nunes, MDB) usando a máquina descaradamente no período pré-eleitoral, representando o centrão. Apesar de ser pouco conhecido e fazer uma gestão desastrosa na cidade, tem nas pesquisas mais de 20% das intenções de voto. Não é pouco, para quem foi escondido nas eleições de 2020 por Bruno Covas. Nunes será a representação do centrão no município, com apoio do cada vez mais forte PSD; sua articulação é para que Bolsonaro não lance candidato e que os votos desse setor de extrema-direita venham naturalmente para si, como candidato anti-esquerda.
Por outro lado, não podemos descartar uma candidatura orgânica da extrema-direita. Ricardo Salles (PL), ex-ministro do Meio Ambiente, é o principal nome. A se concretizar, será uma tentativa de defesa expressa de Bolsonaro nas eleições municipais, dividindo o voto mais conservador no primeiro turno. Trará a polarização entre Lula e o ex-presidente para o centro da disputa municipal. O bolsonarismo se mostrou vivo, forte e atuante após a derrota eleitoral, mesmo que na defensiva, tendo seu principal candidato na cidade a mesma intenção de votos nas pesquisas que o atual prefeito.
Tábata Amaral (PSB) e Datena só terão chances de crescimento disputando os votos de Ricardo Nunes (MDB), o que é pouco provável com o uso da máquina pública e com as alianças que serão feitas. É neste espectro eleitoral, da busca por votos ao centro, dos nem-nem, que estará a dupla Tabata-Datena.
Já Kim Kataguiri (União Brasil) será a representação do Lava-Jatismo, mas com pouca projeção na atual conjuntura; vai se reivindicar o representante da verdadeira direita, algo que este setor não está preocupado. A questão central para eles é quem seu representante máximo (Bolsonaro) irá apoiar.
O papel do campo progressista para arrancar a vitória
Eleger Guilherme Boulos é central para conter a extrema direita no Estado. Para tanto, é importante fazer do processo eleitoral uma disputa de ideias, valores e projetos, disputando mentes e corações, organizando este eleitorado nos comitês populares de luta. A disputa de quem é o melhor “gerente” não nos interessa, ainda mais na atual conjuntura. Nacionalizar as eleições, seja para consolidar a imagem de que Lula é Boulos e Boulos é Lula, seja para carimbar a candidatura que tenta esconder Bolsonaro e seus comparsas (Ricardo Nunes), tem um potencial mais agregador, articulando as políticas públicas nacionais ao cotidiano do paulistano.
Assim, uma candidatura em movimento, que seja a representação da aliança construída junto aos partidos e movimentos populares e sindicais, se faz necessária. Envolver a militância dos mais diversos segmentos; apresentar alternativas a um projeto que expressa machismo, racismo, lgbtfobia e outras formas de opressões presentes na sociedade; disputar do centro a periferia.
O resultado eleitoral será consequência de lutas, disputa ideológica e trabalho de base no ano de 2024, organizando por meio dos comitês populares, núcleos pequenos de ações e mobilizações. Do ponto de vista das lutas e do programa, de maneira geral e sintética, a defesa da democracia e a prisão de Bolsonaro e seus comparsas; fazermos do Carnaval uma grande onda anti bolsonaristas, sendo a cultura como um instrumento estratégico do próximo período; fazer a disputa da defesa intransigente do meio-ambiente, do plantio de milhares de árvores e combatendo a fome com alimentação saudável para o povo paulistano; continuarmos mobilizados contra o neoliberalismo e seus projetos envolvendo a água e a energia na cidade e em defesa de um serviço público de qualidade no município; melhorar a educação municipal; avançar nos mutirões e cooperativas para mais moradias populares; entre outras pautas que nos diferenciam na defesa de um projeto popular para São Paulo.
Não poderemos deslocar o debate (e voto) do Executivo com o do Legislativo; precisamos eleger uma forte bancada para dar apoio ao nosso prefeito. Não é natural esse processo; vide Lula com mais de 45% de votos no primeiro turno e não termos sequer 25% dos votos. Hoje temos 15 de 55 vereadores; para o PT, além da Federação (o que amplia o número de votos) e de uma forte e representativa bancada de candidatos e candidatas, o sucesso do Governo Lula potencializará a bancada; para o Psol, ampliar a bancada é uma grande possibilidade, mas não podem transformar Boulos no candidato apenas da sigla para alcançar esse objetivo; para o PCdoB eleger novamente um vereador é algo importante estrategicamente para todo o campo democrático-popular.
O caso da tentativa de perseguição ao Padre Júlio Lancelotti, através de uma CPI, mostra a importância da eleição do legislativo; ao invés de investigar o porquê do aumento de irmãos e irmãs em situação de rua nos últimos anos, tentam criminalizar o combate à fome e à pobreza extrema. Precisamos ter uma bancada de vereadores e vereadoras comprometidos com as pautas dos movimentos populares, sindicais e partidos progressistas.
Vamos para eleições de 2024 disputando valores, sonhos e projetos, com uma campanha-movimento, em permanente mobilização, combinando as diversas formas de luta e organizando a esperança em pequenos grupos e assim, teremos mais chances de vitória.
*Por Thiago Duarte Gonçalves, coordenador jurídico-parlamentar da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Judiciário da União
Edição: Camila Salmazio