As Forças Armadas dos Estados Unidos e Reino Unido bombardearam uma série de alvos no Iêmen na noite da última quinta-feira (11), em resposta aos ataques dos rebeldes houthis a navios comerciais ligados a Israel no Mar Vermelho, aumentando assim os receios de que uma guerra de maior proporção se expanda no Oriente Médio.
Os ataques foram feitos conjuntamente via mar e ar, por submarinos, navios de guerra e caças, e de acordo com oficiais norte-americanos tinham como alvos instalações dos houthis de defesa aérea e radares costeiros, bem como locais de armazenamento e lançamento de drones e mísseis.
Até o momento, se fala em alvos atingidos na capital do país, Saná, e nas províncias de Sadá, Hodeida, Taiz e Dhamar. “Esses ataques são uma resposta direta aos ataques sem precedentes dos Houthi contra embarcações marítimas internacionais no Mar Vermelho - incluindo o uso de mísseis balísticos antinavio pela primeira vez na história”, disse o presidente norte-americano Joe Biden em um comunicado. "Não hesitarei em tomar outras medidas para proteger nosso povo e o livre fluxo do comércio internacional, conforme necessário", completou o presidente.
Já o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse que o Reino Unido fez uma "ação limitada, necessária e proporcional em legítima defesa, juntamente com os Estados Unidos e com o apoio não-operacional da Holanda, do Canadá e do Bahrein contra alvos vinculados a esses ataques [a navios no Mar Vermelho], para degradar a capacidade militar dos houthis e proteger a navegação global".
Ali al-Qahoum, um oficial de alto escalão dos houthis, prometeu que haverá retaliação aos bombardeios. "A batalha será maior, e para além da imaginação e expextativa dos norte-americanos e britânicos".
Entre os dias 31 de outubro e 12 de dezembro do ano passado, os houthis reivindicaram uma série de ataques a navios israelenses no Mar Vermelho, anunciando que todos os navios associados a Israel seriam considerados alvos legítimos. As ações militares dos rebeldes em solidariedade a Gaza forçaram grandes transportadoras e outras multinacionais a redirecionarem suas rotas marítimas, evitando o Mar Vermelho e adotando uma rota através do Cabo da Boa Esperança, na África. O impacto das ações é portanto considerável, já que se estima que 12% do comércio global e 1 trilhão de dólares em produtos passem pelo Mar Vermelho anualmente.
Congressistas dos EUA protestam decisão de Biden
Representantes democratas e republicanos condenaram pelas redes sociais a decisão de Biden de bombardear o Iêmen sem aprovação prévia do Congresso. "O presidente precisa se apresentar ao Congresso antes de lançar um ataque contra os Houthis no Iêmen e nos envolver em outro conflito no Oriente Médio. Esse é o Artigo I da Constituição. Defenderei isso independentemente de um democrata ou republicano estar na Casa Branca", postou o deputado democrata da Califórnia Ro Khanna no X, o antigo Twitter. "Somente o Congresso tem o poder de declarar guerra", postou o deputado republicano Thomas Massie, do Kentucky.
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Os representantes democratas Cori Bush, Val Hoyly, Mark Pocan, Pramila Jayapal e Rashida Tlaib também denunciaram que os bombardeios violavam o Artigo 1 da Constituição norte-americana, de acordo com o site Responsible Statecraft. Por parte dos republicanos, o senador Mike Lee e a representante Anna Paulina Luna também protestaram.
Nova guerra regional
Os ataques norte-americanos e britânicos ocorrem semanas após os Estados Unidos anunciarem o lançamento da operação militar multinacional "Prosperity Guardian", no dia 18 de dezembro do ano passado. A coalizão, lançada com o objetivo de responder aos ataques houthis no Mar Vermelho, conta com doze países além dos EUA: Reino Unido, Austrália, Bahrein, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Grécia, Coreia do Sul, Holanda, Noruega, Singapura e Sri Lanka, e já vinha sendo apontada por analistas como um fator que poderia levar a uma expansão da atual guerra de Israel contra Gaza para uma guerra regional, englobando diversos países do Oriente Médio.
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"De acordo com qualquer estimativa razoável, enfrentar os houthis não resultaria em uma vitória militar rápida e ágil. O movimento só se tornou mais forte depois da guerra de nove anos que a Arábia Saudita e a coalizão árabe liderada por ela travaram contra ele, com um generoso apoio militar, diplomático e de inteligência dos EUA, do Reino Unido e de outras nações ocidentais. Os houthis apoiados pelo Irã também desenvolveram uma considerável capacidade de fabricação caseira de drones e mísseis, com capacidade comprovada de atingir a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, Israel e os recursos militares ocidentais na região", escreveu Eldar Mamedov no Responsible Statecraft esta semana.
"Portanto, nenhuma guerra contra os houthis se limitaria a alguns ataques cirúrgicos. Com o fracasso previsível de tais ataques para "neutralizar" a milícia, há uma grande probabilidade de um desvio de finalidade que levaria a coalizão a atacar alvos em terra no Iêmen, o que, por sua vez, poderia levar a uma colisão indireta com o Irã."