Neste domingo (14), o conflito no Oriente Médio chegou ao 100º dia, e a autoridade de saúde de Gaza afirmou que já são 23.968 mortos do lado palestino desde 7 de outubro. Philippe Lazzarini, chefe da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) afirmou no sábado (13) que a crise é "agravada pela linguagem desumanizante e o uso de água, comida e combustível como instrumentos de guerra". Ele alertou também para a situação das crianças de Gaza: "Toda uma geração de crianças está traumatizada e a cura levará anos. Milhares foram mortas, mutiladas e se tornaram órfãs. Centenas de milhares estão privadas de educação".
Apesar dos apelos internacionais, o massacre promovido por Israel parece longe de acabar. Também no sábado (13), o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou que "ninguém vai nos deter, nem Haia, nem o eixo do mal, nem ninguém mais". A fala do político fez referência ao processo que Israel enfrenta na Corte Internacional de Haia, na Holanda. A África do Sul acusa o país de cometer genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza. Na acusação, a advogada Adila Hassim destacou os seguintes pontos que, segundo ela, confirmam a intenção de provocar genocídio:
- uso de armas que causam destruição em larga escala,
- prática de designar uma "zona segura" para que os palestinos busquem refúgio e depois essas mesmas zonas serem bombardeadas,
- prática de privar palestinos de necessidades básicas: comida, água, saúde, combustível, saneamento e comunicação,
- destruição de infraestrutura, casas, escolas, mesquitas, igrejas, hospitais,
- grande número de crianças mortas, feridas e tornadas órfãs,
A acusação apresentada pela África do Sul é apoiada pelos 57 países que formam a Organização para a Cooperação Islâmica e por nações como o Brasil. Israel refuta a acusação, alegando que apenas está exercendo a autodefesa.
Manifestações pelo mundo
O sábado (13) foi marcado por manifestações pelo cessar-fogo em todo o mundo. Em Washington, milhares de ativistas pró-Palestina se reuniram no segundo grande protesto desde 7 de outubro. O jornalista palestino Wael al-Dahdouh, da Al Jazeera, participou por vídeo-chamada. Ele se tornou um símbolo da violência cometida por Israel após perder a esposa, uma filha, dois filhos e um neto em ataques aéreos, além de ter sido ele mesmo atingido por um drone israelense. “As pessoas não tem sustento, comida ou água, um lugar para dormir, um banheiro e o que é necessário para a vida, não uma vida decente, mas apenas para se manter vivo", afirmou al-Dahdouh para a multidão reunida em Washington. Ilyasah Shabazz, filha de Malcolm X, também discursou. Entre os manifestantes, havia judeus ortodoxos antissionistas.
Israel também registrou protestos contra o governo de coalizão liderado por Netanyahu. Na capital. Tel-Aviv, os manifestantes pediram novas eleições. Em Haifa, o ex-ministro da Defesa Moshe Ya'alon (que ocupou o cargo no governo de Netanyahu entre 2013 e 2016) discursou para os manifestantes e acusou o governo de não priorizar a libertação dos reféns.
Cronologia do massacre
O atual conflito teve início em 7 de outubro com um ataque massivo do Hamas a Israel. Cerca de 1200 pessoas foram mortas (a primeira estimativa foi de 1400 mortos, mas as próprias autoridades de Israel refizeram o cálculo) e por volta de 240 foram sequestrados. A resposta israelense foi imediata, como bombardeio a Gaza e corte de suprimento de comida, água, combustível e eletricidade. Após acordos, caminhões de ajuda humanitária puderam entrar no território, mas em quantidade muito menor do que a necessária.
Entre 24 de novembro e 1º de dezembro, Israel e o Hamas fizeram uma trégua temporária. 105 reféns feitos pelo Hamas foram libertados, e 240 palestinos foram soltos de prisões israelenses - a maioria mulheres e menores de 18 anos que foram detidos, mas nunca chegaram a ser acusados.
Desde então, não houve mais acordos para cessar-fogo.
Edição: Raquel Setz