Todo ano, no dia 17 de janeiro, comemoramos o surgimento do Movimentos dos Pequenos e das Pequenas Agricultoras, o nosso MPA Brasil. O MPA nasceu no ano de 1996, como fruto histórico da crise econômica e social na agricultura brasileira, produto da abertura neoliberal da década de 1990 e do esgotamento do movimento sindical de trabalhadores rurais como instrumento de representação e luta dos camponeses brasileiros.
“Com sol, com chuva ou com vento, queremos 1500”, era assim que milhares de camponeses e camponesas gritavam e exigiam, às margens da BR 386 e nas beiradas de muitas outras estradas do Rio Grande do Sul em 1996. A reivindicação era por um auxílio do governo para as perdas da produção devido a uma estiagem histórica na região. Os agricultores haviam perdido toda sua produção de milho, feijão, soja, pastagens, produção de subsistência e, sem nenhum tipo de seguridade, conviviam com o risco de perder suas terras para os bancos. Não se conseguiu alcançar os R$ 1.500,00 pedidos nas palavras de ordem, mas sim uma linha de crédito emergencial de R$400,00 (que corresponde hoje a aproximadamente R$18.000,00).
Meses depois, em julho de 1996, foi lançado o Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar (Pronaf). Porém, sem se sentir atendidos com as condições do Pronaf - cujo acesso era extremamente burocratizado para a classe camponesa -, os pequenos agricultores e agricultoras voltam a mobilizar-se. E estão mobilizados até hoje. No Brasil inteiro já havia movimentos de lideranças e organizações apontando a necessidade de construção de novas ferramentas de lutas, pois havia uma crise no movimento sindical e o trabalho de base com o povo precisava ser retomado e apontar novo rumo.
E foi assim que um acampamento, uma ação, motivada por questões climáticas, sociais e políticas, se transformou em um dos movimentos populares mais importantes do país, o MPA. Foram muitas conquistas que ajudaram muito na vida dos camponeses, mas ainda há muito o que fazer. Por isso, depois de 28 anos deste Movimento, perguntamos para algumas lideranças, militantes, dirigentes o significado do MPA para a sua vida.
Para Sônia Costa, dirigente do MPA e que está a frente do Sítio Sossego, em Francisco Santos, no Piauí, o MPA “é liberdade, produção de alimentos, é autonomia e é resistência, o MPA tem essa importância na minha vida, como mulher, como camponesa, como produtora de alimentos, traz a possibilidade de liberdade que a gente tanto almeja, é um produtor de conhecimento, o que possibilita a gente ir atrás dos direitos da gente, de buscar autonomia na nossa produção de alimentos agroecológicos, sem venenos, sem matar a nossa saúde e nem a Mãe Terra.”
Para o engenheiro agrônomo, Adellan Alcantara, do estado do Espírito Santo, “o MPA, pra mim, significa pra mim esperança, protagonismo e prosperidade coletiva das pessoas”. Muriel Assumpção, à frente do Sítio Vinhático, de Silva Jardim, no Rio de Janeiro, também interpreta o MPA como símbolo de esperança. “Vem de ver outros companheiros investindo muito do seu tempo e da sua energia neste movimento, esperança que vem quando estamos entre companheiros e somos capazes de sonhar um mundo melhor pro nosso país, e, principalmente, a esperança que vem quando olhamos pra trás e vê o quanto foi alcançado por meio da nossa organização”. Segundo Muriel, se engana quem pensa que o MPA é importante só para camponeses. “É para toda classe trabalhadora, porque o MPA tem uma construção de projeto emancipatório e popular para o Brasil”.
Valter Israel da Silva, de Pinhão no Paraná apresenta o MPA como “sinônimo de vida, é sinônimo de alimento, é sinônimo da relação campo e cidade, é sinônimo de preservação ambiental, é sinônimo de campesinato, e nos 28 anos de vida deste movimento já produziu muita informação, muito conteúdo, já organizou muita gente”.
Para Maria de Jesus, camponesa no Alto Sertão Sergipano, o MPA significa “a necessidade dos direitos dos camponeses, à justiça social, ao acesso à terra, à moradia, à educação no campo e do campo, a políticas públicas. O MPA pra mim é um divisor de águas, antes e depois, de como eu quero ver a nossa sociedade, como eu quero ver a nova geração camponesa. Então pra mim, o MPA é vida, é a possibilidade dessas transformações, é conquista, é luta, é resistência”.
Ainda há muito o que fazer, mas muito já caminhamos!
E para você, qual o significado do MPA?
Mateus Quevedo é membro do Movimentos dos Pequenos e das Pequenas Agricultoras (MPA)
Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Matheus Alves de Almeida