Eram 6 da manhã do dia 25 de janeiro de 2021 quando dezenas de famílias do bairro Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), foram acordadas em meio a um mar de esgoto que destruiu suas casas. O rompimento de uma lagoa artificial da Estação de Tratamento de Esgotos da Lagoa da Conceição (ETE), gerida pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), despejou mais de 130 milhões de litros de matéria orgânica. Três anos após, as famílias se organizam para protestar e cobrar respostas, ressarcimentos e revitalização da área.
Um ato no fim da tarde desta quinta-feira (25) vai marcar os três anos do rompimento. A partir das 16h30, moradores da Servidão Manoel Luiz Duarte, que estão entre os mais impactados pelo rompimento, realizarão manifestações culturais, plantio de mudas e outras atividades para chamar a atenção do poder público e da imprensa para os impactos físicos e psicológicos que perduram até hoje.
Integrantes da comunidade atingida se juntaram a organizações como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o programa Ecoando Sustentabilidade, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o Instituto Sueco-Brasileiro de Economia Circular e Desenvolvimento Sustentável (Isbe) para organização das atividades, que acontecem na Avenida das Rendeiras, 1.288.
As famílias buscam informações e prazos sobre a conclusão das obras da barragem que está sendo construída. Além disso, cobram a companhia sobre a retirada de geobags – grandes bolsas que contêm areia com matéria orgânica retirada do fundo da lagoa e que, portanto, podem ser vetores de transmissão de doenças e facilitar a proliferação de animais.
"Foi prometida [pela Casan] uma revitalização da rua da Servidão, mas ela só aconteceria depois da retirada das geobags. Como elas não foram retiradas, a revitalização não aconteceu. A rua ainda tem traços de que passaram máquinas pesadas por lá, e as pessoas querem saber quando ela vai ser revitalizada e se vai ser refeito o esgotamento da rua", contou ao Brasil de Fato Thaliny Moraes, uma das pessoas impactadas pelo rompimento.
Os atingidos cobram ainda respostas sobre o bombeamento dos rejeitos para o Parque das Dunas, uma área de preservação ambiental, algo que foi autorizado como medida de emergência após o rompimento da barragem – e já dura mais de dois anos. Estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) aponta que esse processo causou impactos na vegetação do local.
Memorial
No ato desta quarta, está programada a realização da fotoperformance Ensaios para um devir Lagoa, de Márcia Cavalheiro, da faculdade de Artes Cênicas da UFSC. Além disso, será feita a revitalização do Memorial VERA, sigla para "Valorização Ecológica Restauração Ambiental", e que recebeu esse nome em homenagem a Vera Barth, que foi moradora da Servidão.
"A gente vai fazer o plantio de mudas na região do Memorial VERA para começar a marcar fisicamente esse espaço. Com as obras que aconteceram na Lagoa, o espaço foi um pouco apagado e a gente quer trazer de volta essa memória de luta", destacou Thaliny Moraes, que é integrante do MAB.
Outro lado
Em contato com o Brasil de Fato, a assessoria de imprensa da Casan afirmou que todas as pessoas envolvidas foram indenizadas, em um valor total de cerca de R$ 10,2 milhões de reais, divididos entre 78 pessoas. A empresa informou ainda que mantém contato direto com moradores da região para compartilhamento de informações sobre a situação atual da lagoa.
A companhia disse que realiza ajustes em projeto de recuperação da área degradada, após solicitações da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), e que os trabalhos serão iniciados tão logo haja autorização. Estão previstas a retirada de estuturas que possam prejudicar a recuperação da vegetação, retirada de espécies exóticas e promoção da cobertura vegetal nativa, entre outras atividades.
Ainda de acordo com a Casan, já foram feitas adaptações na estação de tratamento de esgoto para garantir melhorias no padrão de qualidade, além de um muro verde de contenção no local onde houve o rompimento.
"Desde janeiro de 2022 a Casan desenvolve um conjunto de ações para maior segurança para a população que vive próxima à Lagoa de Evapoinfiltração e também para a cidade como um todo. A limpeza da lagoa, a construção do Muro Verde e a mudança no sistema de tratamento garantem mais qualidade ambiental para a região, além de trazer maior confiabilidade para todo o sistema", disse a gerente de Meio Ambiente, Andreia Senna.
*Texto alterado às 10h30 de 25 de janeiro para inclusão de posicionamento da Casan.
Edição: Nicolau Soares