O ano era 2003, mais de sete mil pessoas estavam reunidas em Porto Alegre (RS) durante o Fórum Social Mundial. Nascia ali o jornal Brasil de Fato, conduzido pelos movimentos populares e da esquerda latino-americana. O nascimento se deu sob o olhar atento do escritor uruguaio Eduardo Galeano, da médica cubana Aleida Guevara – filha do Che –, do linguista estadunidense Noam Chomsky, da militante argentina Hebe de Bonafini – histórica líder das Mães da Praça de Maio –, do fotógrafo Sebastião Salgado e do teólogo Leonardo Boff, entre outras lideranças.
O contexto era de ascensão de governos de esquerda em países da América Latina. Um reposicionamento das forças políticas. Lula tomava posse após sua primeira vitória nas urnas e dava lugar a novos desafios e contradições. Tudo isso estava expresso na análise do economista Celso Furtado, cuja entrevista estampou a capa da edição zero do jornal.
Depois dele, lutadoras e lutadoras dos mais diversos campos ocuparam as páginas do jornal. Outras capas viriam, denunciando o avanço capitalista contra os bens naturais do Brasil, evidenciando a luta contra pela Amazônia, por exemplo, ou evidenciando avanços na luta internacionalista, como ilustra a capa abaixo.
A luta virou pauta
De lá pra cá, crescemos e multiplicamos nossos canais. Fomos do impresso ao digital, com produções audiovisuais e radiofônicas. Estamos nas diferentes linguagens das redes sociais e ampliamos parcerias para distribuição de todo esse conteúdo, que também tem tradução para o inglês.
Há 21 anos, o Brasil de Fato pratica o jornalismo a partir de outra concepção de mundo. Nosso jornalismo tem lado, e nossa linha editorial é construída por movimentos populares do campo e da cidade, sindicatos e organizações de esquerda. Aqui, a luta, finalmente, virou pauta.
Não tivemos um caminho tranquilo, como as capas históricas da capa deste texto atestam. Atravessamos um golpe de Estado, retrocessos em direitos sociais e trabalhistas. O neofascismo e a extrema direita ganharam espaço. Não há mais um canto do país em que não haja conflito entre empreendimentos capitalistas e povos tradicionais. Não há um canto do país sem luta de classes.
Para interferir no futuro do Brasil e do planeta Terra é preciso incidir na batalha de ideias que está em curso. Todo mundo precisa saber que há alternativas viáveis ao capitalismo, cada vez mais financeirizado e predatório. Um outro mundo é possível. Ele está em plena construção nas experiências de reforma agrária, nos saberes ancestrais dos povos que resistem nos territórios, na agroecologia, na organização popular e no combate às desigualdades.
É aqui, nos nossos textos, programas e podcasts, que esse povo em luta se encontra. Com nosso jornalismo, queremos somar nas discussões para superar os dilemas da humanidade e na construção de conhecimento a partir do olhar do Sul Global.
E assim seguiremos. Sabemos que não estamos sós e contamos com uma extensa rede de organizações parceiras, a quem devemos parte importante de nossas conquistas nas últimas duas décadas. Hoje, chegamos a milhões de pessoas, e queremos continuar crescendo, sempre ao lado de quem luta.
Contem conosco!
Vida longa ao Brasil de Fato!
Edição: Rodrigo Chagas