A professora de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Berenice Bento, alvo de perseguições sionistas por denunciar o genocídio do povo palestino, defende que a esquerda retome às ruas ocupada nos últimos anos pela extrema direita.
“Estar nas ruas com nossos corpos, gritando palavras de ordem, levantando os pulsos, fazendo manifestação em frente aos espaços de poder, como o Itamaraty, o Palácio do Planalto, a Embaixada dos Estados Unidos, é fundamental”, diz ela, em entrevista ao Brasil de Fato DF, acrescentando que o ativismo nas redes sociais “não basta”.
Há uma dificuldade no Brasil, avalia a socióloga, de “voltarmos a nos apoderarmos das ruas como um espaço de luta”, não somente em relação à questão Palestina mas enquanto “forma histórica de luta”. “Continua na ordem do dia”, defende Berenice.
Ela destaca que o país não conseguiu reproduzir as mobilizações massivas contra o genocídio registradas pelo mundo, inclusive em países europeus que sofrem com uma “repressão institucionalizada”. A França, por exemplo, proibiu manifestações pró-Palestina para evitar “perturbações à ordem pública” e, mesmo assim, milhares de manifestantes foram às ruas.
O diagnóstico no Brasil? A existência de uma esquerda “tímida” e, na esfera do parlamento, um “acovardamento” de deputados e senadores. A isso se soma uma posição de medo de perseguição política, como a que a própria Berenice tem sido alvo.
Desde 7 de outubro de 2023, quando o grupo de resistência palestina Hamas promoveu uma ofensiva contra Israel, lideranças políticas e intelectuais de esquerda que se posicionam em favor do povo palestino têm sido alvo de perseguição jurídica, política e de difamação, como é o caso do jornalista Breno Altman, do ex-deputado federal José Genoino e da deputada estadual do Rio Grande do Sul, Luciana Genro.
Ao declarar que se trata de um genocídio o que Israel tem feito contra o povo palestino, como fez o presidente Lula no final de 2023, é preciso dar “consequência” a este diagnóstico, defende Berenice: “O que eu como cidadã, parlamentar, senadora ou ministra posso fazer para parar esse genocídio?”
“Existe uma disjunção entre o diagnóstico e a ação no campo da esquerda, ao meu ver”, pontua a professora, acrescentando que não se pode normalizar o genocídio.
Ataques e solidariedade
Os ataques contra a professora de Sociologia da UnB ficaram mais fortes depois que uma página no Instagram acusou-a de antissemitismo e alegou que ela estaria promovendo “discursos de ódio, notícias falsas e distorções de fatos” por defender a Palestina.
Ela também foi alvo de difamação ao ser incluída em uma lista do deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) de “pessoas identificadas como supostas terroristas” por apoiar o povo palestino.
Questionada sobre como lidar com essa perseguição, ela disse: “não temos muita alternativa a não ser continuar fazendo o que a gente faz”.
“Foram muitas frentes de solidariedade, apoio e indignação quando a acusação de antissemitismo apareceu, e tenho contado com assessoria jurídica para pensar quais são os melhores caminhos”, explicou.
Instituições como o Sindicato Nacional de Docentes do Ensino Superior (Andes), a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADunB) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB se solidarizaram com Berenice por meio de notas.
“O ANDES-SN solicita que as seções sindicais denunciem a página ‘Antisemita_Exposure’ e prestem apoio à professora Berenice Bento, criando uma rede de solidariedade”, escreveu o sindicato.
Já o DCE da UnB afirmou que as difamações contra a docente são “uma velha ferramenta dos que praticam genocídios e apartheid”. “Tentam, inutilmente, destruir os que lutam pelos direitos dos povos e pelo fim de toda exploração e opressão em vilões”, acrescentou.
A ADUnB, por sua vez, disse que atuará “no suporte político e jurídico da professora Berenice Bento para que injustiças como essa não sejam mais cometidas”.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino