MAUS-TRATOS

Abrigos e grupos de proteção de animais operam com superlotação e falta de apoio em Belo Horizonte

Em janeiro, quantidade de gatos abandonados aumenta e protetoras enfrentam baixa na adoção

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Imagem ilustrativa do Abrigo Isabela Freitas, em Contagem (MG) - Foto: Flávia Bernardo

A superlotação de organizações não governamentais (ONGs), abrigos e grupos relacionados à proteção animal de Belo Horizonte (MG) tem sido um desafio recorrente para quem atua nessas iniciativas. Com espaços que operam  acima do limite e que sofrem com a falta de apoio financeiro e voluntário, protetoras dos animais denunciam queda no número de adoções  e ausência de campanhas de conscientização. 

“A lotação não é de agora. Já existe há muito tempo, porque o número de animais abandonados só cresce. Dificilmente você encontra uma ONG ou o que seja, de gatos ou cachorros, que tem um espaço disponível”, alerta Saskia Vasconcelos, responsável pela Casa Mia,  associação de proteção animal de BH.

Segundo o último censo animal realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), em 2022 havia cerca de 48 mil animais soltos em vias públicas da capital, de um total de 479 mil cães e gatos domiciliados no município.  

Em 2023, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), ligado à PBH, realizou o recolhimento de 1431 cães e 943 gatos abandonados  nas ruas. 

Esses números refletem diretamente os problemas enfrentados por Saskia.“Às vezes queremos ajudar e acabamos acolhendo, mas muitas vezes as gatas não têm condições de ficar lá. São animais feridos, doentes, machucados e os pedidos são inúmeros”, lamenta. 

Aumento em janeiro

Educadora e integrante do grupo de proteção animal Resgatitos, Renata Arruda reforça que o problema de superlotação se intensifica em janeiro, período que coincide com a época em que as gatas entram no cio.

“Temos muitos resgates de gatas grávidas e  gatas abandonadas com ninhadas. Às vezes a pessoa tem a gatinha em casa sem castrar. Ela tem acesso à rua, cruza, ganha os gatinhos e a pessoa coloca tudo numa caixa e abandona em qualquer lugar. Isso é muito recorrente”, sinaliza. 

Outro desafio frequente no mês de janeiro, segundo Renata e Saskia, é o abandono decorrente das férias: os tutores costumam viajar e, para não ter gastos com hotéis ou cuidadores, deixam seus animais sozinhos.

Diante desse contexto, as protetoras chamam a atenção para a importância da castração, da adoção e de campanhas de conscientização sobre o assunto. No entanto, Renata acredita que a PBH precisa melhorar a forma como organiza seu sistema de castração gratuita. 

“Abre a inscrição uma vez por mês para as pessoas, só que é uma coisa bem limitante, porque a pessoa precisa estar às 7h no centro de castração, se locomover até lá  com o animal. E se for um cachorro de porte médio a grande? E se a pessoa não tiver um automóvel? Para as pessoas de periferia, que não dispõem de um carro, o ideal seria ter unidades volantes”, sublinha. 

Saskia e Renata reforçam também a importância das doações e da participação nas atividades promovidas pelas ONGs, uma vez que, por serem organizações sem fins lucrativos, os abrigos precisam arrecadar fundos para continuar o trabalho de cuidado com os animais. 

Bicho da Gente

Lançado na terça-feira (30) pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o projeto “Bicho da gente: meio ambiente acolhe” tem o objetivo de dar suporte aos animais que estão sob os cuidados de pessoas em situação de rua em BH. 

A iniciativa conta com uma van médica itinerante que garantirá aos animais o suporte para exames médicos, vacinações, banho e tosa. A proposta é que o projeto realize mil atendimentos na cidade, durante dez meses. 

O “Bicho da gente”, idealizado pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma), é realizado em parceria com o Instituto Arbo, a organização Moradores de Rua e Seus Cães e o Projeto Semente. 

Abandono é crime

A Lei Federal 9.605, de 1998, prevê multa e prisão para tutores que negligenciam seus animais, além de punir por maus-tratos, abandono ou qualquer outra crueldade. 

Outro lado

Procurada pelo Brasil de Fato, a PBH informou que, desde novembro de 2023, oferta castração de animais diariamente, com início às 8h, nos seis Centros de Castração do Município. Afirmou, ainda, que a Zoonoses tem uma unidade móvel de castração que se desloca pelas regionais e é utilizada em ações específicas em áreas de maior vulnerabilidade social.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Larissa Costa