Terra e arte

MST vira tema de samba, e carnaval ocupa acampamento Marielle Vive

Samba enredo do Bloco do Cupinzeiro, de Campinas (SP), celebra os 40 anos do movimento de luta pela terra

Brasil de Fato | Campinas (SP) |

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Canção referencia fatos marcantes da história do MST - © Nara Lacerda / Brasil de Fato

Os 40 anos do Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST) serão celebrados neste Carnaval no samba enredo do Bloco do Cupinzeiro, de Campinas, no interior de São Paulo. A canção Mística Ancestral, de autoria de Edu de Maria, foi apresentada neste sábado (03), no acampamento Marielle Vive, em Valinhos (SP). 

No ensaio aberto, a comunidade se reuniu ao bloco em uma festa preparatória para a apresentação ao público. O bloco vai desfilar pelas ruas do distrito de Barão Geraldo na segunda-feira de carnaval (12), a partir das 16h. 

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Edu de Maria conversou com o Brasil de Fato durante o ensaio e ressaltou a ligação do bloco com as pautas populares, o que tornou a escolha de homenagear os 40 anos do MST um caminho natural. 

“Eu compus esse samba entendendo que precisamos levar para o público mais amplo possível essa ideia da importância da reforma agrária e da importância da trajetória do MST nesse processo de luta por reforma agrária. É uma dívida que o Brasil tem com o povo brasileiro. Muitas oportunidades de fazer a reforma agrária foram desperdiçadas e o MST vem, há 40 anos, tentando mobilizar a sociedade nesse sentido.” 

História na letra 

A letra do samba do Bloco do Cupinzeiro para 2024 relembra a jornada de lutas e conquistas que marcam a história do MST. Na canção, há referências ao histórico acampamento montado em dezembro de 1980 na Encruzilhada Natalino. Centenas de famílias agricultoras do Rio Grande do Sul ocuparam às margens do entroncamento rodoviário pedindo por reforma agrária. 

O grupo resistiu no local até o ano de 1982 e chegou a ter mais de 3 mil pessoas.  Hoje, a ação dos trabalhadores e trabalhadoras é considerada um marco na luta pela terra no Brasil e o berço de movimentos populares organizados, como o MST.    

Outro fato marcante para o movimento, a ocupação da fazenda Annoni, em Sarandi, no norte do Rio Grande do Sul (RS) , também aparece no samba. Em 1985, mais de sete mil pessoas se mobilizaram e ocuparam o local, levando a frente aquela que é considerada a primeira ação dessa natureza do MST. Tassi Barreto, da Coordenação Estadual do movimento, afirma que receber o samba enredo no acampamento Marielle Vive reforça o poder da arte para a luta popular. 

“É um acampamento que está sob risco de despejo, com seis anos de luta e lona. Estamos fazendo uma luta cotidiana pela terra e também pela transformação social. A luta se faz no dia a dia, se faz na construção, em marcha, em atividade, mas também com arte e alegria e com essa formação tão importante, que é o carnaval, para o povo brasileiro e para o povo sem terra. Para nós, luta, festa e cultura, tudo faz parte da nossa conquista pela reforma agrária no Brasil.” 

A canção também destaca o foco do MST na produção de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos para a população brasileira. “Desde Sarandi à Encruzilhada Natalino/ O movimento vem cumprir seu destino/ Diversidade nesse chão/ Terra sem veneno, gente livre e união/ E o movimento ocupou meu coração”, entoa a letra. 

“É festa, mas com o coração pulsando também no sentido da luta. Às vezes, achamos que a festa é a suspensão da luta, mas ela é a continuidade. Ali, nos fortalecemos no coletivo. É maravilhoso poder cantar junto e ver isso acontecendo”, conclui Edu de Maria. 
 

Edição: Camila Salmazio