Uma proposta bipartidária, costurada durante 4 meses, foi rachaçada no Senado dos Estados Unidos nesta quarta-feira (7). O texto, que falava de segurança nacional, tinha como objetivo destinar verbas para a Ucrânia e Israel, além de alocar mais recursos na proteção da fronteira com o México e alterar regras de imigração.
A abordagem de temas tão distintos dentro de uma mesma legislação foi uma exigência dos republicanos. De um lado, a Casa Branca vem pressionando pela aprovação de um novo pacote de ajuda à Ucrânia e a Israel e, do outro, a oposição, que não quer mais dar dinheiro a Zelensky, viu na situação uma oportunidade para ter ganhos no tema da migração.
Após meses de debates, democratas e republicanos chegaram a um acordo. Para liberar as verbas aos aliados internacionais, a Casa Branca aceitou mudanças na política migratória, dentre elas o fechamento da fronteira em casos de alto número de travessias irregulares e novas regras sobre pedidos de asilo no país. Mesmo atendendo às exigências da oposição, o texto não passou.
O ex-presidente Donald Trump trabalhou ativamente para enterrar a proposta. Publicamente, Trump criticou o texto, afirmando se tratar de um acordo ruim e, por de trás dos panos, pressionou aliados a votarem contra. O motivo? Resolver a questão da fronteira antes da eleição seria uma vitória para Biden.
Em 2023, de acordo com dados da Alfândega dos EUA, foram registrados 2,5 milhões de encontros na fronteira sul do país. “Encontros” é o termo utilizado para cada vez que um imigrante é abordado por um agente da patrulha fronteiriça. Em 2020, último ano do governo Trump, o número total foi de pouco mais de 405 mil.
O motivo do alto número são muitos, e vão desde a situação econômica difícil em alguns países da América Latina até um gargalo criado pela própria administração Trump. Durante o governo do republicano, muitos imigrantes foram proibidos de acessar o sistema de asilo dos EUA, o que levou a um acúmulo de imigrantes aguardando do lado mexicano da fronteira.
A migração é um tema central para Trump desde 2016. Atualmente, a retórica tem se tornado cada vez mais agressiva e xenófoba. Em novembro, o ex-presidente afirmou que os imigrantes estaria “envenenando o sangue” dos Estados Unidos. Mais recentemente, disse que os que cruzam a fronteira sul são oriundos de “prisões” e “instituições mentais” e são “terroristas".
Em um pronunciamento na Casa Branca, Biden culpou o adversário pela morte do projeto bipartidário: “há meses atrás eu instruí meu time a começar uma negociação com um grupo bipartidário de senadores para, seriamente e finalmente, resolver nosso sistema imigratório. Agora, todos indicativos mostram que esse projeto não vai nem passar pelo senado. Por que? Um motivo simples: Donald Trump. Porque Donald Trump acha que será ruim para ele politicamente”.
Verbas para Ucrânia e Israel
Após ceder às pressões de Donald Trump e afirmar que a proposta bipartidária “chegaria morta à Casa”, Mike Johnson, presidente da Câmara, sugeriu a aprovação de um pacote de ajuda a Israel à parte do projeto inicial. Apesar de serem contra o envio de mais dinheiro à Ucrânia, os republicanos defendem a ajuda a Israel.
Em resposta, a Casa Branca afirmou que o projeto seria vetado por Joe Biden. Mike Johnson, logo em seguida, disse que um veto de Biden seria “um ato de traição”.
No Senado, controlado pelos democratas, o líder do governo, Chuck Schumer, anunciou ontem uma proposta diferente. Um pacote de ajuda à Ucrânia e a Israel sem entrar no tema da migração - o que, diga-se de passagem, era o que os democratas queriam desde o início. A proposta dos democratas destinaria US$ 60,1 bilhões para a Ucrânia, US$ 14,1 bilhões para Israel e US$ 10 bilhões para ajuda humanitária a civis. O texto deve ser votado ainda hoje no Senado, mas o futuro é incerto.
Edição: Lucas Estanislau