Massacre

Israel volta a bombardear cidade com refugiados; Biden diz que ação em Gaza é 'excessiva'

Passagem humanitária na cidade é única via para saída do território sob ataque; já são quase 28 mil palestinos mortos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ataques israelenses contra cidade fronteiriça ameaça refúgio de milhares de palestinos - SAID KHATIB / AFP

Israel manteve nesta sexta-feira (9) os bombardeios contra a cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, logo após ser criticado publicamente pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, seu principal aliado político e militar.

"Minha opinião é que a resposta em Gaza tem sido excessiva", declarou o presidente estadunidense na quinta-feira (8). "Há muitas pessoas inocentes passando fome, muitas pessoas inocentes que estão em dificuldades e morrendo, e isto tem que parar", completou Biden.

Localizada na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, a passagem humanitária em Rafah é a única via para saída de palestinos e estrangeiros do território sob ataque de Israel, que cerca o restante dos acessos terrestres e marítimos da área e onde centenas de milhares de civis palestinos estão cercados. A cidade tem cerca de 1,3 milhão de pessoas atualmente, sendo que a maioria são deslocados da guerra, abrigados em barracas e cabanas de forma precária. 

Apesar da crítica pública de Biden, a Casa Branca vem pressionando o Congresso pela aprovação de um novo pacote de ajuda a Israel.

Palestinos alertam para massacre

Adel Al Hajj, que chegou a Rafah procedente do campo de Al Shati da Cidade de Gaza, disse à AFP que teme "invasão" dos militares israelenses, algo que, segundo ele, poderia resultar em "massacres". Esse temor é compartilhado por Um Ahmed al Burai, palestina de 59 anos também procedente de Al Shati. "Se Rafah for atacada, haverá massacres e um genocídio. Não sei se conseguiremos fugir para o Egito, ou se os massacres também nos alcançarão", declarou à agência de notícias. Antes de chegar a Rafah, ela passou por Khan Yunis e por Jirbet Al Adas.

Segundo um funcionário da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), que pediu anonimato, algumas pessoas em Rafah estão seguindo em direção ao mar, porque "acreditam que uma eventual operação terrestre" começará perto da fronteira israelense.

Na madrugada desta sexta-feira, várias testemunhas relataram à AFP bombardeios israelenses no centro e no sul de Gaza. "Ouvimos o barulho de uma explosão enorme perto de nossa casa (...) Encontramos duas crianças mortas na rua", declarou Jaber Al Bardini, morador de Rafah, de 60 anos.

"Se [Israel] executar um ataque [terrestre] contra Rafah, vamos morrer em nossas casas. Não temos escolha, não temos para onde ir", acrescentou.


Imagens de satélite mostram a província palestina de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 15 de outubro de 2023 (E) e o mesmo local em 14 de janeiro de 2024 / PLANET LABS / AFP

Na quarta-feira (7) o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar “especialmente alarmado” com o anúncio israelense de atacar Rafah, o que, segundo ele, “aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário com consequências regionais incalculáveis”.

A guerra completou quatro meses nesta quarta com um saldo de mais de 27 mil pessoas mortas pelos ataques israelenses e mais de 67 mil pessoas feridas, segundo o Ministério da Saúde em Gaza. 

*Com AFP e Al Jazeera

Edição: Lucas Estanislau