Desde que as federações partidárias foram aprovadas no Congresso Nacional, em 2021, o cenário político brasileiro passou por uma reviravolta significativa no tabuleiro eleitoral e partidário.
A alteração legislativa permitiu a formação de coalizões entre legendas nas eleições proporcionais, representando uma mudança de paradigma nas estratégias políticas.
Nesse novo contexto, as agremiações consolidam alianças estratégicas visando ganhos expressivos em representatividade e, consequentemente, influência no cenário nacional. A Federação Brasil da Esperança, composta por PT, PCdoB e PV, foi criada em 2022 com o apoio do então candidato à presidência Lula, como uma possibilidade de aglutinar forças dentro do campo de esquerda, a fim de garantir a eleição de uma boa bancada federal que, em caso de vitória, a sustentasse. Contudo, com a Federação, a dinâmica de escolhas eleitorais e táticas se altera. O PT, acostumado a tomar suas decisões internas, agora precisa alinhar com os outros dois partidos que compõem a Federação.
No Paraná, a Federação Brasil da Esperança apresentou seu novo presidente, Elton Barz, do PCdoB, que terá a tarefa de colaborar no desenho estratégico para a esquerda nos próximos dois anos. Nenhuma decisão poderá ser levantada sem que ao menos o veterano dirigente comunista e historiador saibam.
A reportagem do BDF PR entrevistou o novo presidente estadual da federação, que falou sobre as articulações para as prefeituras, prioridades táticas para a esquerda e o cenário nas principais cidades do estado, como Curitiba, onde a agremiação ensaia apoiar o ex-prefeito Luciano Ducci para o pleito.
Brasil de Fato Paraná. Quais são os planos da federação para as eleições municipais no Paraná?
Elton Barz: A Federação tem focado em alguns objetivos importantes, claro. O primeiro deles são as principais cidades do estado, pelo menos as maiores, 23, 24 cidades, onde se concentra 55% do eleitorado paranaense. Isso não significa que não daremos atenção para as cidades médias ou pequenas, mas o nosso centro é nessas. E como centro um, são aquelas que têm segundo turno e, central do central, Curitiba, Ponta Grossa e Guarapuava. Na nossa análise, essas são cidades que, além de serem grandes, poderemos vencer a eleição.
A Federação buscará frentes de esquerda ou uma frente mais ampla?
EB: A nossa tentativa será fazer não só uma frente de esquerda, mas uma frente que tem apoiado o governo Lula, não esses partidos do centrão, mas os que ajudaram a derrotar o governo Bolsonaro, como PSB, Solidariedade, PSDB. Essa é a nossa aliança que a gente fala sobre frente ampla.
Em Curitiba, existe a possibilidade da federação fechar com Ducci, mas existem setores que resistem à ideia. A federação irá de Ducci mesmo ou buscará uma candidatura solo?
EB: A nossa tentativa é fechar uma frente que envolva as candidaturas do PSB (Ducci) e do PDT (Goura). Nós julgamos que elas são as melhores para encabeçar a nossa frente dentro da realidade política da cidade. Hoje, é claro, há uma tendência mais apontada para o Ducci, mas a candidatura do PDT também é analisada. É claro que o PT tem suas candidaturas, e é legítimo que o PT tenha isso, que se coloque no ambiente para a gente debater a densidade, como tem se colocado. Até o final de março, a federação definirá o caminho de quem irá liderar a aliança. Mas o sentido é ampliar. Outro fator é que estamos muito atentos para a eleição no senado. Nós somos um dos autores para tentar cassar o mandato do Sérgio Moro. A gente está confiante e se isso acontecer, haverá uma eleição extemporânea junto com a eleição municipal. Caso aconteça, uma grande prioridade será essa candidatura no senado, com grande possibilidade de nossa candidata ser a deputada Federal Gleisi Hoffmann. Então, a questão de frente ampla entra também aí, porque para a gente ter chance de ter disputa no senado, nós temos que tentar ampliar nosso campo e trazer apoios de partidos como PSB e PDT, e apoios pontuais de outros partidos como Solidariedade, PSDB, Cidadania para nossa candidatura para o senado.
Sua presidência vai até 2026. O que a federação buscará fazer para fortalecer um palanque de oposição ao atual grupo que governa para as eleições ao Palácio Iguaçu?
EB: O que nós tentaremos fazer, e aí, nós sempre defendemos antes mesmo do governo Lula que só venceríamos com uma frente ampla, e só governaríamos com uma frente mais ampla ainda. Se você observar, é isso que está ocorrendo neste exato momento. Então, eu vou lutar para que essa frente tenha realidade na eleição municipal, que também nossos movimentos sociais entendam esse processo porque também não é um movimento só de eleição, mas também de fortalecer e defender o governo Lula, porque uma vez que a gente consegue fazer essas alianças, no nosso entendimento, começa a ter um guarda-chuva maior de defesa do governo federal. E tentar já apontar para um 26, em uma reeleição do Lula, que tenhamos no Paraná um maior espaço para elegermos mais deputados, e possamos ter uma disputa melhor nas eleições para o governo estadual e o senado. Lembrar que no Paraná, desde 2016 com o golpe, passando por 2018, com a eleição do Ratinho Jr, isso criou várias dificuldades para nós. Hoje, a cidade maior que a gente governa no Paraná não tem tem 50 mil habitantes, então nós precisamos nos reinserir nesse espaço das maiores cidades, eleger mais vereadores e dar luz ao governo Lula. Se,em 2020, era ter candidaturas próprias do nosso campo de esquerda como PT, e nós mesmos do PCdoB, para denunciar a prisão de Lula, agora não, é a defesa do governo Lula então envolve uma responsabilidade, e por isso então a ampliação das próprias alianças.