O Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) completa 36 anos em Minas Gerais. Foi no dia 12 de fevereiro de 1988 que a primeira ocupação do MST ganhou vida na Fazenda Aruega, em Novo Cruzeiro, município do Vale do Mucuri. De lá para cá, com uma trajetória que evidencia a solidariedade do povo mineiro, o movimento acumula um legado de milhares de vidas transformadas pelo acesso à terra, à educação e à cultura.
Atualmente, são mais de 25 mil pessoas em 40 acampamentos e 43 assentamentos espalhados em nove das 12 regiões do estado. Nos lotes, as famílias sem-terra dedicam-se à produção de alimentos saudáveis, mas também têm a oportunidade de vivenciar processos de alfabetização, de formação e artísticos.
Maria José Santos, conhecida como Mara, foi morar com a família na primeira ocupação do movimento quando tinha apenas sete anos de idade. Ela conta que toda a sua trajetória individual se mistura com o histórico de lutas e conquistas do MST. Atualmente, ela vive no assentamento Nova Vida, também em Novo Cruzeiro.
Coletividade e solidariedade
Na infância, Mara teve a oportunidade de participar do primeiro encontro estadual das crianças “sem-terrinhas”. Foi educadora de jovens e adultos na adolescência, graduou-se pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) — que é uma conquista histórica do movimento — e, agora, é dirigente regional do movimento.
“O MST permite a experiência da vida em comunidade, de vivenciar uma escola em movimento, de participar da religiosidade feita de povo e de uma fé que é feita de ações coletivas e concretas. O movimento me permitiu estar no mundo de forma crítica, a partir da vivência no assentamento, nos encontros, nas lutas e mobilizações”, conta Mara.
Para ela, ao longo dos últimos 36 anos a organização também foi imprimindo a solidariedade como uma de suas principais marcas.
“As nossas conquistas são partilhadas com quem está ao nosso redor e com a sociedade. Não partilhamos apenas a produção, mas também o conhecimento, os valores e a cultura. Esse é um aprendizado muito bonito do movimento”, explica Mara.
Patrimônio
Brasilino Moreira da Silva, assentado na região do Vale do Rio Doce, destaca que, entre as várias conquistas do MST em Minas Gerais, o principal patrimônio do movimento é a militância dedicada a construí-lo.
“Os assentamentos são territórios livres de exploração, porque as pessoas passam a ser donas de sua própria terra. Nosso maior patrimônio são essas pessoas e a militância. Temos trabalhado bastante em nossa organização para construir um movimento realmente popular e de massas”, avalia.
Disputa da sociedade
Além da luta pela reforma agrária, o MST possui um profundo compromisso com a transformação da realidade brasileira. Para isso, o movimento cultiva um conjunto de princípios, como o da centralidade do trabalho, da direção coletiva e da democracia interna, e desenvolveu uma estrutura orgânica, que permite a combinação das formas de luta.
Atualmente, o movimento possui organizados no estado dos setores de educação, saúde, produção e mobilização, chamado de “frente de massas”, além de coletivos e cooperativas.
Além disso, no último período, o MST inaugurou dezenas de Armazéns do Campo, que comercializam produtos sem veneno e proporcionam o acesso à arte e à cultura popular nas grandes cidades. Belo Horizonte, Juiz de Fora e Montes Claros são exemplos de municípios mineiros onde a loja está presente.
Dirigente nacional que ajudou no processo de consolidação do MST no estado, Ênio Bohnenberger explica que um dos grandes aprendizados do movimento ao longo da sua história em Minas Gerais foi o de que é preciso se colocar para fora e ter capacidade de disputar a sociedade.
“Não ficamos apenas na luta pela terra, dentro do latifúndio. Aprendemos a desenvolver as várias formas de luta. Quem nos conhece de longe, enxerga o MST pelas ocupações, que é mesmo a nossa principal marca. Mas nós desenvolvemos muito mais coisas ao longo desses 36 anos”, destaca Ênio.
“Atualmente, estamos desenvolvendo, por exemplo, um grande programa de replantio de árvores na bacia do Rio Paraopeba, que foi atingida pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Essas ações nos proporcionam um legado, sem perder nunca a centralidade da luta de massas”, complementa.
Ao longo dessa trajetória, o movimento também organizou diversas edições de festivais da Reforma Agrária, de arte e de cultura, e jornadas formativas nas periferias.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa