Bloqueio

Venezuela denuncia roubo de aeronave após avião apreendido na Argentina ser enviado aos EUA

Avião de carga venezuelano foi retido em território argentino em 2022; EUA utilzaram sanções para confiscar aeronave

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A Emtrasur é responsável por transportes de carga e pertence à companhia aérea estatal Conviasa. O Boeing 747 da empresa ficou impedido de deixar a Argentina de 8 de junho até esta segunda-feira (12) - AFP

O governo dos EUA confiscou nesta segunda-feira (12) o avião da estatal venezuelana Emtrasur que estava retido no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires. A aeronave deixou a capital argentina por volta da 1h20 da manhã e chegou em Miami, nos Estados Unidos, no final da manhã. A aeronave estava bloqueada no aeroporto de Ezeiza desde junho de 2022 por um tratado de cooperação judicial entre a Argentina e os EUA.

O governo da Venezuela emitiu uma nota rechaçando o “roubo descarado” da aeronave. Segundo a agência de notícias TeleSur, o avião deixou o país como um voo militar e desligou seu sistema de identificação aéreo para passar por alguns trechos. O Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (Inac), que é a autoridade aeronáutica da Venezuela, já havia emitido um Notam (Notice to Airman, na sigla em inglês) proibindo a passagem da aeronave pela Colômbia. 

O Notam é uma mensagem que pode ser emitida pelas autoridades de aviação dos países para determinar mudanças temporárias nas operações aéreas. A restrição sobre a passagem por um espaço é uma das medidas que pode ser usada por um país. Essas determinações são válidas por até três meses.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela também condenou a “confabulação” dos governos da Argentina e dos EUA contra a Venezuela. O avião da Emtrasur chegou à Argentina em 6 de junho de 2022, vindo do México. A aeronave estava carregada com peças de automóveis e tinha 19 tripulantes. A ideia era abastecer em Buenos Aires e voltar para a Venezuela, mas o combustível foi negado em solo argentino. O Boeing 747 foi ao Uruguai dois dias depois, onde havia sido prometida a liberação de abastecimento. No entanto, as autoridades uruguaias negaram a entrada do avião em seu território, forçando a tripulação a retornar à Argentina.

A origem da apreensão do avião está no fato que 5 dos 19 integrantes da tripulação do avião eram iranianos. Deputados da direita argentina, da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) e da Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA) recorreram à Justiça argentina para reter o avião, que acatou o pedido. Os grupos afirmam que alguns integrantes da tripulação estão ligados ao atentado ao prédio da AMIA que ocorreu em Buenos Aires, em 1994, e deixou 85 pessoas mortas. 

Os governos da Argentina, EUA e Israel acusam o Irã de ter cooperado com o grupo armado libanês Hezbollah no ataque. No entanto, a cooperação iraniana foi descartada por órgãos de inteligência ao longo das investigações.

A Emtrasur é responsável por transportes de carga e pertence à companhia aérea estatal venezuela Conviasa. O Boeing 747 da empresa ficou impedido de deixar a Argentina desde 8 de junho de 2022 até esta segunda-feira (12). A Justiça portenha, que não encontrou nenhuma irregularidade na aeronave e na tripulação até o momento, justifica a retenção do avião por conta de um tratado de cooperação judicial com os EUA.

A Justiça da Argentina decidiu liberar em setembro de 2022 12 dos 19 tripulantes. Os últimos tripulantes foram liberados 3 meses depois. Em outubro de 2022, um promotor do Distrito de Columbia nos EUA pediu a cassação do Boeing 747 da Emtrasur, alegando que ele teria sido comprado da empresa iraniana Mahan Air. A Justiça argentina determinou em janeiro de 2024 que o país enviaria o avião aos EUA. 

Na última semana, o ministro dos Transportes da Venezuela, Ramón Celestino Velásquez Araguayán, disse que a Argentina pretende cobrar 7 mil dólares pelo estacionamento do avião. 

Edição: Lucas Estanislau