O Palácio do Planalto dispensou um diplomata da Secretaria de Comunicação Social (Secom) que participou da reunião ministerial, realizada em 5 de julho de 2022, em que o ex-presidente Jair Bolsonaro discutiu o planejamento de um golpe de Estado, segundo as investigações da Polícia Federal (PF). A informação foi divulgada pela GloboNews.
O diplomata Comarci Nunes Filho estava em processo de empréstimo do Ministério das Relações Exteriores para a Secom para atuar como coordenador da Secretaria de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual (Seaud) desde dezembro de 2023. Com a dispensa, ele volta ao Ministério das Relações Exteriores.
Antes, Comarci atuava como assessor técnico da Secretaria-Geral do Itamaraty desde julho de 2021. Por isso, no dia da reunião de Bolsonaro, ele estava ao lado do então secretário-geral do Itamaraty, Fernando Simas Magalhães, que atualmente é embaixador do Brasil em Haia.
Além de Comarci e Fernando Simas Magalhães, também estava presente o embaixador André Chermont de Lima, ex-chefe do cerimonial da Presidência da República, segundo apuração do Correio Braziliense. Hoje, ele é cônsul-geral do Brasil em Tóquio, no Japão.
Inclusive, no vídeo da reunião que durou cerca de 1h30, Chermont é citado nominalmente por Bolsonaro para organizar o encontro com os embaixadores que ocorreu dias depois. “Já acertei com o Chermont para falar com o (ministro) França. Na quinta-feira eu vou reunir os embaixadores no Alvorada”, disse Bolsonaro na ocasião.
No vídeo, vários ministros do então governo ouvem Bolsonaro repetir notícias falsas sobre o funcionamento das urnas e o Tribunal Superior Eleitoral, atacar ministros do STF, ordenar a propagação de informações distorcidas e sugerir até a redação de uma nota conjunta entre os ministérios para afirmar que seria impossível atestar a lisura das eleições.
“Acho que não tem bobo aqui. Pô, mais claro do que tá aí? Mais claro... Impossível! Eu acredito que essa proposta de cada um da Comissão de Transparência Eleitoral tem que ... quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui... é botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar... a OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal... dizer... que até o presen... uma nota conjunta com vocês, com vocês todos ... topam ... que até o presente momento dadas as condições de ... de ... se definir a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas. E o pessoal assina embaixo", afirmou o então presidente.
"Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Alguém acredita? Se acreditar levanta o braço! Acredita que eles são pessoas isentas, tão preocupado em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo que são ... Tão vendo acontecer?", seguiu Bolsonaro.
O material é um dos elementos utilizados pela Polícia Federal (PF) para realizar a Operação Tempus Veritatis, que cumpriu buscas contra ex-ministros do primeiro escalão de Bolsonaro e militares de alta patente alinhados ao bolsonarismo para investigar as articulações golpistas durante o governo do ex-presidente.
Ao Brasil de Fato, fontes do governo disseram que as investigações da Polícia Federal (PF) devem ser finalizadas para que haja qualquer conclusão sobre o destino dos envolvidos. Comarci é funcionário de carreira e continua no Itamaraty.
Edição: Rodrigo Durão Coelho