Em um relato enviado ao Brasil de Fato, Davi Kopenawa, principal líder da Terra Yanomami, celebrou a experiência inédita de desfilar no pela escola de samba Salgueiro, no carnaval carioca de 2024.
"Para todos que que estão querendo saber o meu pensamento [depois do desfile], eu falo com amor, Eu falo com amor. Eu amo a Terra, eu amo a minha Amazônia", declarou o coordenador da Hutukara Associação Yanomami.
Emocionado, ele destacou a felicidade que sentiu passar pela Sapucaí em cima do carro alegórico e ao lado de seus "guerreiros". Além disso, o líder cobrou mais uma vez a retirada dos garimpeiros ilegais do território.
"[O desfile] foi muito bom, muito bom, muito forte, com saúde e alegria. É histórico que nós levamos até no Rio de Janeiro. Isso é histórico e vai ficar em nossas futuras gerações Yanomami e nas futuras gerações do povo da cidade", disse.
Neste sábado (17), o Salgueiro volta à Sapucaí no Desfile das Campeãs, que começa às 22h. A escola, que ficou em 3º neste ano, fará o desfile depois da Vila Isabel e da Portela.
"Ainda estamos vivos"!
Neste ano, o Salgueiro levou para a avenida um samba que homenageia a luta dos Yanomami, que enfrentam uma crise humanitária provocado pelo garimpo ilegal.
Batizado de 'Hutukara', o samba-enredo usa termos da língua yanomami e foi construído em parceria com líderes do território, incluindo Kopenawa. O xamã havia pedido à escola que os retratasse apenas como vítimas, mas como um povo guerreiro.
"A escola Salgueiro chamou nós de [povo] que luta. Que luta [pelo] interesse da terra, da água, interesse do povo indígena do Brasil. Lutamos [por] quem mora na cidade e que defende a natureza. Foi muito bom", avaliou.
Entre as frases mais marcantes da música, que também lembrou o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, está "Ya Temi Xoá", "ainda estou vivo” na linguagem Yanomami.
Davi Kopenawa elogiou: "Foi muito bom que quem canta, quem dança, aprendeu cantar Ya Temi Xoá ['ainda estou vivo' em língua Yanomami]. Isso é muito importante, que eles vão praticar e amadurecer".
"Garimpeiros continuam", diz Davi Kopenawa
Por outro lado, Kopenawa expressou sua revolta contra a contínua invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. Ele cobrou o governo federal, o estado de Roraima e os compradores de ouro.
"Isso que é o meu alerta. Eu continuo falando sobre invasores, Garimpo ilegal tem que sair. Tem que sair de verdade, não é ficar falando, falando… Tem que falar verdade, falar mentira não. Não pode prometer que [garimpeiro] vai sair. Essa fala eu não acredito. Não está acontecendo.
Desde o início de 2023, o governo federal conduz uma operação integrada para expulsar os garimpeiros, que invadiram massivamente o território durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A maioria dos garimpeiros foi retirada, mas, sem o fechamento do espaço aéreo, aeronaves continuam transportando ouro, comida e máquinas para os mineradores ilegais.
"Ouro é sangue do meu povo, sangue das minhas crianças, sangue da Terra planeta, de água", destacou na fala ao Brasil de Fato.
Edição: Rodrigo Durão Coelho