Intimado pela Polícia Federal para depor na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado que teria sido arquitetada em seu governo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) informou ao Supremo Tribunal Federal que não deve prestar nenhum esclarecimento enquanto não tiver acesso integral à investigação. O pedido inclui todo o conteúdo dos celulares apreendidos e da colaboração premiada de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid.
O depoimento de Bolsonaro está previsto para ocorrer nesta quinta-feira (22), às 14h30.
"Ante o exposto, informa-se que o peticionário opta por não prestar depoimento ou fornecer declarações adicionais até que seja garantido o acesso à integralidade das mídias dos aparelhos celulares apreendidos, sem abrir mão, por óbvio, de ser ouvido em momento posterior e oportuno", afirma a petição dos advogados de Bolsonaro protocolada nesta segunda-feira, (19) no STF. Cabe ao ministro Alexandre de Moraes, responsável por conduzir as investigações envolvendo o ex-presidente, decidir sobre a solicitação.
Na manifestação, os advogados alegam ainda que o acesso integral ao conteúdo dos celulares apreendidos ao longo da investigação, incluindo o aparelho celular do próprio Cid, poderiam "contribuir de maneira significativa para a comprovação da inocência do peticionário e o esclarecimento da verdade real". Em paralelo à atuação de seus advogados no STF, Bolsonaro convocou um ato em sua defesa no próximo domingo (25), na avenida Paulista, em São Paulo.
No aparelho celular de Cid, a Polícia Federal encontrou diálogos com militares cujo conteúdo, de acordo com investigadores, reforça as suspeitas sobre articulações golpistas. Haveria mensagens inclusive para monitorar o paradeiro e as viagens do ministro Alexandre de Moraes em 2022 e para levantar dinheiro para os acampamentos em frente aos quarteis do Exército pelo país.
A defesa do ex-presidente ainda lembra que ele já foi alvo de três mandados de buscas no âmbito de investigações que estão sendo conduzidas por Alexandre de Moraes, sendo que a primeira busca ocorreu há dez meses e a segunda há seis meses. "Meses durante os quais o Peticionário se viu não só atacado, mas também questionado com base em conteúdo de mídias às quais não teve acesso. Por outras palavras, fica lançado a todo tipo de crítica e prejulgamento, sem condições mínimas de formalizar qualquer resposta, diante da cegueira que lhe foi imposta", seguem os advogados.
Dentre os elementos que a Polícia Federal (PF) reuniu na investigação estão um vídeo de uma reunião de Bolsonaro com seus ministros, em 5 de julho de 2022. Nela, o ex-presidente cobra seus auxiliares para que espalhem fake news sobre o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.
Também há uma minuta golpista que, segundo a PF, foi "analisada" por Bolsonaro e editada a pedido do então presidente após a eleição de 2022, perdida por ele para o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O documento previa, dentre outras medidas, a prisão de Alexandre de Moraes e a instauração de um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral.
Edição: Thalita Pires