Os Estados Unidos são o país que paga mais caro por medicamentos no mundo em uma lista de 33 países pesquisados pela Rand Research, instituto estadunidense focado em pesquisas sobre políticas públicas.
Um remédio no país custa 278% a mais do que na média dos demais países. Quando se trata de um medicamento patenteado, o preço é ainda mais elevado: 422% mais caro do que no restante do mundo. Trata-se de uma realidade que afeta a saúde física e financeira de muitas famílias pelo país.
“Nós ouvimos todos os dias de pacientes que estão precisando decidir entre comprar seus remédios ou pagar seu aluguel, ou colocar comida na mesa”, disse Andrew York ao Brasil de Fato. Ele é diretor Executivo do Conselho de Acessibilidade a Medicamentos Prescritos de Maryland.
"Essas são decisões reais que os pacientes precisam tomar. Eu acho que a principal coisa que você vai ouvir nos últimos anos é a insulina, muito porque é uma medicação que salva vidas. E tiveram muitos casos onde pacientes tiveram que escolher não comprar a insulina, que é um medicamento que salva vidas, e tiveram consequências trágicas associadas a isso”, disse.
O medicamento se transformou em uma espécie de símbolo da disparidade entre o que estadunidenses pagam e o que o restante do mundo paga. Para efeito de comparação, o levantamento da Rand Research revelou que um frasco do medicamento nos EUA custa em média US$ 98 (R$ 487), enquanto no vizinho Canadá custa apenas US$ 12 (R$ 60). Um frasco de insulina tem a duração de 28 dias.
Por que os medicamentos custam tão caro nos EUA?
O problema do custo elevado das medicações parece estar ligado ao próprio sistema de saúde do país que é majoritariamente composto pelo setor privado. Uma pesquisa da Peterson-KFF mostrou que nos Estados Unidos o gasto per capita com saúde foi de US$ 12.555 em 2022. Nos demais países desenvolvidos, a média ficou em US$ 6.651, quase a metade.
Em segundo lugar, porque a falta de um sistema público de saúde robusto dificulta na negociação de preços com a indústria. “A maioria dos outros governos possuem o que a gente chama de sistema de pagador único, onde o governo negocia em nome da sua população inteira”, explicou York. “Nos EUA, cada empresa negocia em nome dos pacientes que elas cobrem, então é um número muito menor”, disse.
Com o objetivo de investigar a questão, o Comitê Sobre Preços de Medicamentos Prescritos do Senado dos EUA realizou no último dia 8 de fevereiro uma sabatina com três CEOs da indústria farmacêutica.
Na liderança estava Bernie Sanders, senador independente que há anos defende uma mudança no sistema de saúde do país. Essa não foi a primeira vez que o progressista bateu de frente com os chefões da indústria farmacêutica dentro do Capitólio.
"Vamos ser claros, a grande beneficiária desses preços altos de medicamentos é a indústria farmacêutica. Como nós sabemos disso? Bem, é exatamente isso que eles dizem aos seus investidores. De acordo com seu próprio relatório aos acionistas, Bristol Myer Squibb fez US$ 34 bilhões vendendo o anticoagulante Eliquis nos Estados Unidos, comparado com apenas US$ 22 bilhões no restante do mundo todo”, disse Sanders.
Bernie defende que o problema não está apenas nos preços abusivos, mas também no controle econômico que a indústria farmacêutica exerce sobre a política no país.
“Esse é um dado chocante: no ano passado, empresas de medicamentos tinham mais de 1,8 mil lobistas bem pagos aqui em Washington para garantir que o Congresso fizesse a sua parte. Existem 535 congressistas e 1,8 mil lobistas bem pagos. Mais de três para cada congressista. Se você quiser saber por que você está pagando os valores mais caros do mundo, Estados Unidos, é por causa disso”, afirmou.
Edição: Lucas Estanislau