O ano letivo teve início nas últimas semanas e com ele um debate importante volta à tona: o papel da comunidade escolar nas questões sobre saúde mental de crianças e adolescentes. De acordo com um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 38% das escolas brasileiras enfrentam problemas de bullying.
A coordenadora de programa e políticas da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Marcele Frossard, explica que muitas vezes os professores são os primeiros a identificar que a criança ou o adolescente está em sofrimento mental. Isso acontece porque "ele acompanha esse estudante o ano todo e consegue perceber as mudanças de comportamento e no desempenho escolar".
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Para Frossard, o tema saúde mental é pouco debatido e, apesar dos professores conseguirem identificar problemas em muitos estudantes, eles também sofrem com isso.
"A escola pública tem uma grande diversidade, e somado a isso tem todos os problemas de infraestrutura, falta de valorização dos professores, [...] ela é uma instituição que precisa trabalhar com outras instituições. Um psicólogo na escola é importante para apoiar o professor e conseguir auxiliar os estudantes, mas é necessário o papel conjunto da rede pública de saúde", afirma.
A professora da rede estadual e diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe-RJ), Dorothea Frota Santana também acredita que é preciso uma rede de apoio bem estruturada para resolver os problemas de saúde mental, inclusive os que envolvem bullying nas escolas.
"Sempre defendi as parcerias entre instituições de saúde e educação. As secretárias de saúde e assistência social precisam ser acionadas pelo executivo. É preciso ter o olhar voltado para os territórios, principalmente para as comunidades excluídas do acesso aos serviços públicos".
Ela explica que para isso existe um trabalho feito com as equipes do programa primordial do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (Proinape), que foi implementado em 2009 na cidade do Rio. "Ele é o programa primordial que desenvolve estratégias educacionais pautadas nas competências socioemocionais, na proteção integral de crianças e adolescentes, na promoção de saúde mental e no enfrentamento às múltiplas questões da expressão social, mas infelizmente a demanda é maior do que o número de profissionais envolvidos".
Segundo Dorothea, as escolas devem ser um local de acolhimento para toda a comunidade. Porém, com a falta de infraestrutura das escolas públicas, os professores acabam sobrecarregados, o que afeta a todos.
"É urgente o investimento de verbas públicas para maior número de profissionais da área de saúde nas escolas, como dentistas, agentes de saúde, psicólogos e outros. Além da diminuição do número de alunos por turmas, as escolas precisam ser equipadas com laboratórios de informática, climatizadas. Seria muito importante também parcerias com a secretaria de Cultura", finaliza.
De acordo com Marcele, há ainda um novo desafio quando se trata da saúde mental de crianças e adolescentes que se relaciona com a maneira como as novas tecnologias podem afetar esses estudantes.
"Outras gerações também sofreram bullying, mas elas chegavam em casa e esqueciam disso. Nessa geração, com o cyberbullying, você é lembrado o tempo inteiro. Você abre o celular para se distrair e vê algo que te incomoda ou alguém te ameaça, então existe uma vivência do uso dessas tecnologias que quem é mais velho não acessa mais".
No início deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou um projeto de lei que institui a Política Nacional de Assistência Psicossocial nas Comunidades Escolares. O objetivo é integrar ações de educação, saúde e assistência social, com foco na saúde mental.
O texto prevê ações intersetoriais entre serviços de educação, saúde e assistência social para garantia da atenção psicossocial para toda a comunidade escolar, o que inclui estudantes, professores, outros trabalhadores das escolas e pais e responsáveis pelos alunos.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse