Israel continua seus ataques aos hospitais Al-Amal e Nasser em Khan Younis, apesar de já ter dizimado a capacidade de prestação de cuidados nas duas instalações. Nas últimas semanas, a maioria das pessoas que buscou refúgio em Nasser foi violentamente expulsa, incluindo trabalhadores da saúde e suas famílias. Em 16 de fevereiro, a invasão israelense em Nasser causou um apagão elétrico e levou à morte de vários pacientes que ainda estavam na unidade de terapia intensiva. Especialistas alertam que provavelmente mais pessoas terão o mesmo destino se não forem transferidas em breve.
Representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que tentavam negociar a transferência com as Forças de Ocupação Israelenses (IOF, sigla em inglês para Israeli Occupying Forces), disseram que lhes foi negada a entrada em Nasser em várias ocasiões até 19 de fevereiro. A agência de saúde da ONU também anunciou que a série de ataques na localidade reduziu o número de hospitais parcialmente funcionais em Gaza de 36 para 11.
Durante o ataque das IOF ao hospital Nasser, eles também continuaram os bombardeios ao redor do hospital Al-Amal, que é afiliado à Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (Palestine Red Crescent Society – PRCS). No domingo, 18 de fevereiro, a PRCS anunciou que as forças israelenses atingiram o próprio edifício do hospital, causando danos graves.
A organização também publicou material documentando o tratamento de membros de sua equipe que foram sequestrados pelas IOF durante um ataque em 9 de fevereiro. Dois dos médicos, Jamal Ayad e Nafith Al-Qarm, foram recentemente libertos, no entanto, fotografias compartilhadas pela PRCS mostram que seus joelhos, pulsos e rostos ficaram feridos durante a detenção.
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À medida que alguns dos trabalhadores da saúde que foram sequestrados pelas forças israelenses durante invasões a hospitais nos últimos quatro meses são libertos, mais testemunhos surgiram sobre a tortura severa e violência que enfrentaram enquanto estavam sob detenção israelense.
Um deles, o Dr. Alaa Muti’ Al-Ghafir do departamento de radiologia do Al-Shifa, foi mantido em cativeiro pelas forças israelenses por 56 dias. Durante esse tempo, ele relata, foi tão espancado que precisou de pontos para estancar o sangramento. Al-Ghafir foi mantido em um alojamento com aproximadamente mais 120 pessoas, sem acesso a padrões adequados de higiene ou mesmo comida e água suficientes.
“Nós recebíamos um copo de água por dia. Estávamos todos com fome e sede o dia todo”, disse ele em um testemunho publicado pelo Movimento de Saúde do Povo (PHM). “Todos os dias, tínhamos que acordar às 5:00 da manhã e éramos forçados a ficar de joelhos até a meia-noite. Se nos movêssemos, éramos jogados contra a cerca do alojamento, e não nos era permitido usar o banheiro a menos que o soldado concordasse.”
De acordo com relatórios do Ministério da Saúde Palestino, cerca de 70 membros da equipe do Hospital Nasser foram levados pelos soldados israelenses após a última invasão, incluindo Atef Al-Hout, o diretor do hospital, e o chefe de cirurgia Naheed Abu Taaimah.
A intensificação dos ataques contra os centros médicos em Khan Younis indica que os poucos estabelecimentos de saúde em Rafah não serão poupados quando a ofensiva terrestre se deslocar para lá. Não há hospitais em Rafah que possam efetivamente ajudar a absorver todos os pacientes deslocados vindos de outras partes de Gaza, mas as instalações de saúde lá desempenham papéis essenciais na prestação de cuidados no local.
Entre eles está o Hospital Maternidade Al-Helal Al-Emirati, cuja equipe de saúde tem lutado para acompanhar os efeitos da guerra. A situação das mulheres e crianças continua sendo particularmente vulnerável, já que as mães não conseguem iniciar a amamentação porque estão passando fome.
Cerca de dois meses após o início da guerra israelense em Gaza, Mohammed Salama, chefe da UTI neonatal do hospital, já alertava sobre a falta de suprimentos médicos essenciais, equipamentos e fórmulas necessárias para cuidar dos recém-nascidos. A situação só piorou, pois a ajuda permitida em Gaza continua sendo insuficiente comparada às urgências reais.
As incubadoras do Emirati continuam a abrigar várias crianças ao mesmo tempo, aumentando o risco de sepse. Até 15 de fevereiro, 77 bebês compartilhavam 20 incubadoras. Crianças em boas condições são liberadas da ala, mas os profissionais de saúde “sabem que depois de alguns dias eles voltarão com sepse ou hipotermia”, Salama contou recentemente a oficiais da ONU que visitaram a instalação.
Artigo original publicado em Peoples Dispatch.