Apesar da crise diplomática entre Brasil e Israel, que tem os Estados Unidos como principal aliado político e militar, o a reunião entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e secretário de Estado estadunidense, Antony Blinken, foi "muito, muito boa", na avaliação do norte-americano.
"Estados Unidos e Brasil estão fazendo muitas coisas importantes juntos. Trabalhamos de forma bilateral, regional e global. É uma aliança muito importante", disse Blinken a jornalistas antes de deixar o Palácio do Planalto nesta quarta-feira (21). Esta é a primeira vez que o representante do país visita o Brasil desde que assumiu o cargo há três anos.
O encontro foi em Brasília, onde secretário de Estado dos EUA desembarcou na terça-feira à noite. No início da reunião, Lula e Blinken conversaram rapidamente sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que acontecerão em novembro.
No dia anterior, um porta-voz do departamento de Estado disse que os EUA discordavam das declarações feitas por Lula, que comparou o massacre de palestinos em Gaza feito por Israel ao extermínio de judeus realizado por Adolf Hitler na Alemanha nazista.
“Fomos bastante claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível. Queremos ver o aumento de ajuda humanitária para civis em Gaza. Mas não concordamos com esses comentários”, disse Matthew Miller.
Também na terça, o governo dos Estados Unidos vetou pela terceira vez no Conselho de Segurança da ONU um texto que pede "cessar-fogo imediato" em Gaza. A guerra na Ucrânia também é um dos pontos de divergência entre Brasil e Estados Unidos, assim como as relações com a Venezuela.
EUA se opõe à retirada de Israel de territórios ocupados
Os Estados Unidos se opuseram nesta terça (20) a que Israel seja obrigado a se retirar dos Territórios Palestinos ocupados sem receber garantias de segurança, declarou um representante de Washington ante a Corte Internacional de Justiça (CIJ).
A maioria dos oradores pediu que Israel pusesse fim à sua ocupação iniciada depois da Guerra dos Seis Dias de 1967, mas os Estados Unidos defenderam seu aliado. "A corte não deve concluir que Israel é legalmente obrigado a se retirar imediata e incondicionalmente do território ocupado", disse Richard Visek, assessor jurídico do Departamento de Estado.
"Todo movimento para a retirada de Israel da Cisjordânia e de Gaza requer que as necessidades de segurança de Israel sejam levadas em conta", destacou.
Esta semana, a CIJ, com sede em Haia, celebra audiências sobre as consequências jurídicas da ocupação israelense dos Territórios Palestinos desde 1967, com um número inédito de 52 países chamados para prestar declarações.
As audiências começaram na segunda-feira com depoimentos de funcionários palestinos, que acusaram os ocupantes israelenses de dirigirem um sistema de "colonialismo e apartheid" e instaram os juízes a pedir o fim da ocupação "imediata, total e incondicional".
Desdobramentos da crise
Na terça-feira (20), o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, classificou as declarações de seu homólogo israelense, Israel Katz, de "inaceitáveis na forma, e mentirosas no conteúdo”.
“Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o Presidente Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso a linguagem chula e irresponsável”, afirmou o chefe da diplomacia brasileira.
Katz havia acusado Lula de fazer uma comparação "imoral e delirante" entre a guerra em Gaza e o Holocausto.
Líderes de países da América Latina manifestaram apoio ao presidente Lula após as contundentes declarações sobre o governo de Israel e o massacre em Gaza. Considerado persona non grata pelo governo israelense, Lula mostrou ter grande respaldo entre os países vizinhos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho