Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta sexta-feira (23), a Polícia Civil e a Brigada Militar (BM) apresentaram os resultados das apurações sobre o caso do motoboy negro esfaqueado no sábado (17). Na ocasião, apesar de ter sido vítima de agressão, ele foi levado pela Brigada Militar acusado de desacato à autoridade. Everton Henrique Goandete da Silva e o seu agressor, Sérgio Camargo Kupstaitis, foram indiciados por lesão corporal de natureza leve. O documento foi remetido ao Judiciário. O Ministério Público analisará a apuração.
:: Manifestação neste domingo repudiou racismo e violência policial em Porto Alegre ::
Por sua vez a sindicância realizada pela Brigada Militar, que apurou a conduta dos PMs, ressaltou que não houve agressão nem racismo por parte dos agentes, portanto, que não houve crime militar ou crime comum. A sindicância apontou que houve uma transgressão disciplinar quando os policiais permitiram que Sérgio fosse ao apartamento sozinho e não o levaram detido no porta-malas da viatura, da mesma forma que Everton foi levado. O homem branco foi conduzido a uma delegacia no banco traseiro de uma viatura.
Dois dos quatro PMs envolvidos na abordagem tinham sido afastados das atividades nas ruas para serem preservados. Com a conclusão da sindicância, o comando pode autorizar a retomada imediata das ações de campo, segundo a BM.
Conforme explicou o sub-chefe da Polícia Civil, Heraldo Chaves Guerreiro, a investigação da 3ª Delegacia de Polícia apurou as ocorrências de lesão corporal e de desobediência. "Nós não apuramos o crime de racismo na Polícia Civil porque, na Polícia Civil, não foi aventada essa possibilidade em nenhum momento, nem pelo Everton, nem por outras partes que foram ouvidas. A Polícia Civil apurou as lesões corporais recíprocas", afirma. Segundo a investigação, crimes de lesão corporal são, normalmente, resolvidos com a assinatura de termos circunstanciados. No entanto, com a repercussão do caso, foi realizado o inquérito.
Para o advogado Ramiro Goulart, que trabalha na defesa de Everton "o recorte dos fatos tentou desqualificar a resposta de Everton à agressão por ele sofrida, desconsiderando as intenções de Sérgio e Everton, bem como o fato de Everton somente ter se defendido, como disseram as testemunhas, afirmou o criminalista". A defesa vai aguardar "a manifestação do Ministério Público quanto às diligências requeridas".
Sobre o caso
No dia da agressão, Everton estava próximo à esquina da rua Miguel Tostes com a avenida Protásio Alves, onde se concentram trabalhadores que entregam refeições para bares e restaurantes da região. O caso contra o motoboy ganhou notoriedade porque o professor Renato Levin Borges, de 40 anos, estava próximo ao local e gravou e publicou um vídeo em suas redes sociais.
A situação causou revolta e fez com que centenas de pessoas realizassem, no domingo (18), um ato antirracista e contra a violência.
Parlamentares se manifestam
Em sua conta no X, o deputado Matheus Gomes (PSOL) ressaltou que a coletiva da Secretaria de Segurança Pública do RS e da Brigada Militar foi um show de autoproteção e negação da existência de racismo nas abordagens policiais.
“E o pior é que reforçaram o tratamento desigual, pois, apesar de indiciarem Sérgio por agressão, agravaram a situação do Everton, pois ele reagiu quando foi algemado e levado na “cachorreira” da viatura. (...) É preocupante a postura do Comando da BM e do governo Leite: em vez de se desculpar ante a sociedade, dobram a aposta na proteção da corporação e no clima de embate com quem exige o fim da discriminação”, afirmou.
A deputada federal Daiana Santos (PCdoB) fez a seguinte declaração: "Everton, o motoboy negro agredido com um canivete, foi indiciado por Lesão Corporal Leve e Desobediência. É o que concluiu o inquérito da BM, apresentada na Coletiva convocada às pressas pelo governo Leite. Um show de horrores racista que escancara o Pacto da Branquitude. Seguiremos acompanhando o caso e exigindo que essa abordagem seja vista a partir das questões raciais tão presentes na nossa sociedade".
"Revoltante! Vocês acreditam que o Everton foi indiciado por agressão leve e por desobediência à Brigada Militar? A sindicância ainda concluiu que não houve agressão e nem racismo por parte dos policiais militares. Infelizmente já imaginávamos essas conclusões. Queríamos que o desfecho fosse justo e que mais um caso não morresse nas mãos da Corregedoria da Brigada Militar. Seguimos em luta por justiça ao Everton”, escreveu a deputada Laura Sito (PT).
* Com informações do G1
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko