A Advocacia-Geral da União vai investigar "redes de desinformação" sobre o Marajó, no Pará. Conforme publicação do atual advogado-geral Jorge Messias no X, antigo Twitter, "os marajoaras merecem respeito e um tratamento digno de todo o poder público".
Messias determinou que a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD) identifique as redes que espalharam notícias falsas para criar o que chamou de "desordem informacional" sobre o arquipélago.
Desde que uma cantora gospel interpretou em um programa de calouros uma canção em que cita denúncias de exploração sexual infantil na região, o tema voltou a ser assunto nas redes sociais. A partir daí, imagens e vídeos de abusos supostamente gravados no Marajó começaram a circular. Porém, organizações da sociedade civil que acompanham e atuam na defesa dos marajoaras denunciaram muitas informações e conteúdos falsos.
Ainda assim, essas mesmas organizações não negam que exista violência sexual na região. "Não são de hoje. Já existe um histórico tanto de identificação de casos quanto de enfrentamento dessas situações pela rede de proteção, pelos governos sociais e pelo Estado como um todo. É óbvio que nós temos ainda um déficit de, por exemplo, subnotificação de casos. Nós temos um déficit de enraizamento das políticas públicas, sobretudo aquelas que fazem enfrentamento de repressão à nível policial, de segurança pública", pontua Assis da Costa Oliveira, pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Violência na Amazônia (Neiva) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
"Mas nós não podemos deixar que essas informações que surgiram, por exemplo, na semana passada, considerem que a população do Marajó normaliza essa violência. Ou a violência sexual, ou outro tipo de violência. Isso é uma mentira, isso é algo errôneo", continua Assis.
O especialista critica a generalização do fato e relembra denúncias nunca comprovadas de Damares Alves, então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo Bolsonaro.
"É algo que vem desconfigurar, estigmatizar essa população. Desde 2019, você tem recorrentemente tanto a Damares quanto outras pessoas que se apropriam desse discurso de pânico moral, de desinformação através das redes sociais, produzindo justamente, primeiro, uma interpretação generalizada e superficial dos fatores que ocasionam as violações de direitos das crianças e adolescentes no Marajó. E, segundo, um processo de interpretação de que as soluções que possam vir para essa mudança são soluções que perpassam à privatização de certos direitos sociais para que determinadas organizações possam atuar, por exemplo, promovendo educação, saúde, a distribuição de cestas básicas", argumenta citando interesses, por exemplo, de entidades religiosas.
Um projeto criado por Damares, o 'Abrace o Marajó', acumula denúncias por irregularidades e fake news, como já noticiou o Brasil de Fato. O programa foi revogado pelo presidente Lula em setembro de 2023. O governo federal criou então em maio, meses antes dessa revogação e para substituí-lo, o 'Cidadania Marajó', focado no combate a exploração infantil na região com apoio das forças de segurança e em diálogo com a sociedade civil. As atividades podem ser acompanhadas na página do programa.
"Uma atuação que muda, de fato, de paradigma. A gente precisa dizer que, a partir do programa Cidadania Marajó, você tem uma mudança de chave de compreensão de que deve se dar o protagonismo à população local para que elas achem as suas respostas e tenham o fortalecimento das suas instituições e capacidade de intervenção", compara o pesquisador da UFPA.
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta segunda-feira (26) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Matheus Alves de Almeida