Angela Mendes, ativista socioambiental e filha de Chico Mendes, chamou de "escárnio" a indicação do homem que matou o líder seringueiro para a presidência municipal do Partido Liberal (PL) em Medicilândia (PA). A sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro reverteu a nomeação após o caso render repercussão negativa.
"Vejo isso com muita preocupação. Acho que a posição de um presidente de partido requer ética, seriedade e respeito ao povo e à democracia. O presidente tem o papel de aglutinar forças políticas. E quais interesses políticos um presidente com o perfil dele vai reunir", disse Angela Mendes ao Brasil de Fato.
Darci Alves Pereira, assassino confesso e condenado a 19 anos de prisão pela morte de Chico Mendes, vive hoje no interior do Pará. Bolsonarista, ele é líder de uma igreja evangélica e se apresenta como "Pastor Daniel". Segundo a Justiça, Darci foi o autor do tiro que matou o sindicalista, e o pai dele, Darly Alves da Silva, foi o mandante.
Darci tomou posse como presidente municipal do PL no final de janeiro. Após o caso ter sido revelado pelo site O Eco nesta semana, o presidente nacional da legenda, Valdemar da Costa Neto, anunciou que o "Pastor Daniel" foi destituído da presidência e será desfiliado do partido, que também abriga Eduardo e Flávio Bolsonaro, além das deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis.
Angela Mendes, que segue os passos da pai na luta contra a expansão agropecuária, lembrou que há dois grandes projetos políticos em disputa na Amazônia. O primeiro liderado por latifundiários que usam a floresta para produzir commodities agrícolas, e o segundo que reúne indígenas e trabalhadores do campo contra o desmatamento e as mudanças climáticas.
"Qual desses lados é defendido por Darcy ou 'Pastor Daniel'? O dos povos oprimidos da floresta ou do latifúndio que é responsável pela violência contra esses povos? Dos grandes proprietários de terras responsáveis pela tragédia climática que tem desabrigado milhares de famílias no Acre e em toda Amazônia?", afirmou a filha de Chico Mendes.
Darci cumpriu pena e foi pro semi-aberto
Após cumprir parte de sua sentença por um assassinato na década de 1990, Darci Alves Pereira se mudou para Medicilândia. Ele admitiu o crime várias vezes, mas depois mudou de estratégia jurídica e negou a autoria.
Darci e seu pai foram condenados a 19 anos de prisão. Eles fugiram do presídio e foram recapturados. Darci foi para o regime semi-aberto, enquanto seu pai conseguiu o direito de cumprir a pena em casa, por problemas de saúde.
Outro lado
O Brasil de Fato não conseguiu contato com Darci Alves Pereira. Ao site O Eco, ele se negou a dar entrevista. Em declaração ao portal Poder 360, disse: "Já paguei pela minha vida do passado e estou há 20 anos em liberdade. Hoje, sou outra pessoa”.
Edição: Thalita Pires