O ano legislativo na Argentina começa nesta sexta-feira (1), com uma série de protestos em frente ao Congresso Nacional do país, onde está previsto um discurso do presidente Javier Milei às 21h.
Organizações populares, assembleias de bairro e partidos de oposição convocaram manifestações contra as medidas ultraliberais do governo. Durante o dia também foram convocados protestos contra o aumento das passagens do transporte público em mais de 500% no valor.
O protesto chamado de molinetazo convoca os usuários dos metrôs e trens a pularem o molinete, termo espanhol para as catracas de acesso ao transporte. Também haverão em frente ao Congresso manifestações de apoiadores do presidente.
Os argentinos foram surpreendidos na segunda-feira (26) com o anúncio de que o discurso de abertura do ano legislativo será feito à noite e não ao meio dia, como acontece tradicionalmente. Muitos a entenderam como outra mostra da devoção de Milei pela cultura dos Estados Unidos, em um clara emulação do Sate of the Union (Estado da União), discurso anual feito também à noite, em que o presidente estadunidense antecipa suas propostas legislativas ao Congresso.
No último sábado (24), Milei posou para uma foto com o ex-presidente Donald Trump na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), congresso da extrema direita estadunidense em Washington.
Além da mudança de horário, o discurso de Milei deve trazer "boas surpresas" segundo anunciou o deputado Oscar Zago, líder do partido governista A Liberdade Avança no Congresso. Mais do que surpresas, o anúncio provoca apreensão devido à relação de conflito que ele estabeleceu com os parlamentares após a derrota de seu pacote de medidas ultraliberais, conhecido por "Lei Ônibus", após forte mobilização popular com uma série de protestos em frente ao Congresso Nacional.
O presidente argentino tem feito uma série de críticas públicas aos deputados, que chamou de "idiotas úteis e ladrões". Em declaração à imprensa estrangeira nesta quinta (29), ao comentar sua primeira derrota legislativa, Milei indicou que pretende governar por decreto. "Enquanto o Congresso tiver sua composição atual, cremos que será difícil aprovar reformas e há reformas que podemos fazer por decreto", disse ao jornal britânico Financial Times.
Na manhã desta sexta-feira, o presidente argentino fez um post em hebraico acompanhado da frase "VIVA A LIBERDADE, C*****". O texto em hebraico é uma mensagem de Deus a Moisés presente no Antigo Testamento, após quebrar as mesas com os mandamentos.
VIVA LA LIBERTAD CARAJO
— Javier Milei (@JMilei) March 1, 2024
VIVA LA LIBERTAD CARAJO
VIVA LA LIBERTAD CARAJO pic.twitter.com/PmInIFdmrW
“E Deus disse a Moisés: alise duas tábuas de pedra como as primeiras, e escreverei nessas tábuas as palavras que estavam nas primeiras tábuas que você quebrou”, diz a mensagem postada na conta oficial do presidente no X (antigo Twitter). A mensagem enigmática pode ser interpretada como se Milei não tivesse desistido de aprovar no Congresso o pacote de medidas liberais que já haviam sido rechaçadas pelos legisladores.
Na manhã de sexta, o líder do governo no Congresso, Jorge Macri, abriu a sessão com um discurso com foco em segurança e austeridade fiscal. Macri defendeu as medidas da nova administração que impediu maiores protestos em Buenos Aires.
“É o Governo quem decide o que pode e o que não pode ser feito no espaço público, que é usufruí-lo e não habitá-lo e vandalizá-lo”, afirmou.
*Com página 12
Edição: Rodrigo Durão Coelho