TERRA E CULTURA

Arte e resistência: conheça a importância da cultura camponesa na luta pela reforma agrária

Da música à dança, do tablado aos palcos, movimento ganha força por meio da expressão cultural popular

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A música na cultura camponesa é instrumento de resistência e luta pela reforma agrária popular proposta pelo MST - Reprodução 'Bem Viver TV'
Durante uma ocupação de terra, a primeira coisa que a gente faz é cantar, é uma forma de resistência

Aliar a cultura artística com o fazer da agroecologia é parte do cotidiano de Zé Pinto. Desde 1986, ele é um dos principais criadores de canções do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

"Sou tocador de viola caipira, sou compositor e sou cantador. O que a gente chama de poeta popular tem esse compromisso de resgatar essa arte camponesa e trabalhar nossas raízes a nossa resistência cultural camponesa", diz José Pinto de Lima, conhecido por Zé Pinto. O artista é um entre tantos que fazem parte do cenário da cultura camponesa, no qual a luta pela reforma agrária e pela sustentabilidade é intrínseca ao fazer arte.

"Artista é quem faz arte. Então tem um monte de gente que canta, um monte de gente que toca e que ganha milhões com música, mas é artista mesmo? Mas a gente acredita que ser artista é ser alguém que se preocupa que o ser humano e que precisa se elevar enquanto ser humano. Porque quer levar o povo junto, quer construir o povo, quer se preocupar com a educação das pessoas", reflete. 

Foi durante o Encontro Nacional de Violeiros do Brasil em Minas Gerais, em 2005, que Gue Oliveira começou a militar na trincheira, a partir da arte no MST, como ela gosta de contar.

"Quando a gente faz uma ocupação a primeira coisa que a gente faz é cantar, é uma forma de resistência. E, uma vez,  o batalhão de choque começou a marchar em nossa direção. E aí o nosso povo começou a fazer uma dança com enxadas e foices. Foi um negócio maravilhoso! E aí, para mim, foi a prova de que a arte e a cultura tem um papel na luta, ela mobiliza o que há de mais humano na gente", ressalta. 

Na mesma linha, Maria Raimunda, coordenadora nacional do setor de cultura do MST ressalta que a cultura camponesa é formada a partir do trabalho coletivo no campo.

"O camponês, a sua forma de vida, que são de encontros dos mutirões, dos trabalhos coletivos, já reúne essa formação cultural brasileira do campo pela música, das rodas de viola, dos causos, da poesia, dos contos, os camponeses têm isso como uma prática, da sua própria construção de vida coletiva do trabalho".

De acordo com ela, a cultura camponesa entra em enfrentamento com o modo de vida do agronegócio. "Eles têm uma indústria cultural que produz massivamente um gosto. Um gosto por uma comida envenenada e pela cultura padronizada", afirma. 


A Escola Popular de Teatro e Vídeo propõe um teatro sustentável, em contraposição à toxidade da indústria cultural / Filipe Augusto Peres

Thiago Vasconcelos é integrante da Companhia Antropofágica de Teatro e da Escola Popular de Teatro e Vídeo, uma escola de formação popular junto com o MST. Ele atua ainda no acampamento Comuna da Terra Irmã Alberta, em Perus, na região noroeste de São Paulo, com oficinas de teatro. No local, cerca de 40 famílias produzem em média uma tonelada de alimento sem veneno por semana e resistem também a partir da arte.

O ator afirma que a ideia é fazer um teatro agroecológico. Dentro da analogia com a produção rural, seria um espaço "que não precise destruir o que está em volta, ao mesmo tempo que se produz comida limpa e uma cultura não tóxica. Eu costumo sempre dizer isso, do mesmo jeito que a comida pode estar envenenada a gente vê a indústria cultural produzindo uma cultura absolutamente tóxica porque é uma cultura sexista, é uma cultura racista, capacitista patriarcal, machista".

"Então eu acho que o movimento e também a cooperativa, os grupos de teatro, as escolas populares de teatro e vídeo, elas não demonstram mais um plano, esse plano já acontece. E aí é batalhar politicamente para que isso tome uma escala, porque é isso que a gente precisa", conclui Thiago. 

Edição: Thalita Pires