Preso neste ano na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o ex-assessor internacional da presidência Filipe Martins deve ser interrogado na Justiça Federal de Brasília no próximo dia 9 de maio. Ele será ouvido sobre a acusação de discriminação por ter feito um gesto supostamente supremacista durante uma sessão do Senado Federal para ouvir o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em março de 2021.
O interrogatório foi marcado no fim de fevereiro pelo juiz federal David Wilson de Abreu Prado, da 12ª Vara Federal no DF, onde tramita a ação penal envolvendo Filipe Martins. O episódio do gesto feito por Martins, teve grande repercussão na época e chegou a ser criticado pelo senador Randolfe Rodrigues durante a audiência, já que Filipe estava sentado logo atrás do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em uma posição que permitia que sua imagem aparecesse nas transmissões.
Na época, a sessão estava sendo realizada de maneira remota devido à pandemia de Covid-19. O episódio acabou sendo investigado pela Polícia Legislativa do Senado e encaminhado ao Ministério Público Federal, que denunciou Filipe Martins por gestos racistas em 2021. No mesmo ano, a Justiça Federal em primeira instância absolveu o ex-auxiliar de Bolsonaro, mas o Ministério Público recorreu da decisão. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região acatou o recurso e mandou que fosse reaberta a ação penal contra Filipe Martins.
Agora, cabe ao juiz do caso conduzir o interrogatório, além de ouvir as testemunhas do episódio para decidir se condena ou não Martins.
Além deste caso, o ex-auxiliar de Bolsonaro é apontado pela Polícia Federal como o responsável por apresentar ao ex-presidente em novembro de 2022 a minuta de um decreto golpista que previa, dentre outras coisas, a implementação de um "estado de sítio" no Tribunal Superior Eleitoral e a prisão do presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Em depoimento à PF ele negou ter ajudado a produzir e encaminhado a minuta a Bolsonaro.
'Se achou gordo'
No episódio envolvendo o gesto racista, Filipe Martins já depôs perante a Polícia Legislativa do Senado em 2021, ocasião em que afirmou que o gesto não teria um intuito específico e que somente estaria ajustando seu terno. "Não houve intuito específico, pois estava na verdade ajustando seu terno, conforme já esclarecido. Deseja destacar que não há qualquer simbologia ligada a qualquer questão ideológica e tampouco finalidade ofensiva a quem quer que seja", afirmou o ex-assistente de Bolsonaro.
Na ocasião, ele argumentou ainda que ficou sabendo pelo celular que estava aparecendo na imagem que era transmitida pela TV Senado e reproduzida pelos principais veículos de imprensa do país. Em sua versão, ele disse que no dia chegou a telefonar para o almirante Flávio Rocha, então secretário de Assuntos Estratégico da Presidência da República, para comentar sobre a fala de Randolfe Rodrigues que o acusou de estar propagando um gesto supremacista branco, conhecido como White Power, uma vez que as posições dos dedos remeteriam às letras W e P.
"Explicou nessa ligação que esclareceu ao almirante que estava sentado em uma posição que aparecia, na transmissão televisiva, atrás do presidente do Senado Federal e, portanto, buscou se arrumar, pois se achou gordo se vendo nas imagens", disse Martins.
A justificativa dele, porém, foi rebatida pelo Ministério Público Federal com base na perícia feita sobre o vídeo no dia. De acordo com o MPF, "após ser repreendido, FILIPE MARTINS alegou que estava apenas ajeitando seu terno. No entanto, as imagens de vídeo captadas durante a sessão e analisadas detidamente no inquérito policial revelam que o gesto do denunciado foi realizado de forma completamente inusual e antinatural, e deixam evidente que não teve o intuito de ajustar a roupa", diz o MPF na acusação.
A reportagem tentou contato telefônico e por mensagem com a defesa de Filipe Martins, mas não obteve nenhum retorno até a conclusão deste texto. O espaço está aberto para manifestação da defesa.
Edição: Thalita Pires