Composta por cerca de 40 famílias da comunidade de Surucuá, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (PA), uma associação coordenada pelas irmãs Mariane Chaves e Raquel Tupinambá tem resgatado os saberes ancestrais, aliados à inovação e tecnologia para a produção sustentável.
Criada em 1994, a Associação de Moradores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós (AMPRAVAT) tem como base o fortalecimento da economia e qualidade de vida dos Tupinambás, especialmente com a presença das mulheres, como explica a coordenadora Mariane Chaves.
“São as mulheres as responsáveis pela alimentação familiar, então elas têm essa conexão com a floresta, com a produção do alimento, principalmente na questão da qualidade, não pensando apenas na geração de renda, mas na segurança e soberania alimentar da sua família. Então esse é um dos nossos principais objetivos, organizar a produção, gerando renda para as famílias e gerando autonomia para as mulheres”, explica Mariane.
A comunidade, que reúne indígenas e agroextrativistas da região, atua por meio de puxiruns, que significa ajuda mútua e remete à tradição de reunir várias pessoas para atividades coletivas, a exemplo de roçados para o manejo de mandioca.
“Reunimos principalmente as mulheres para fazer a produção e o beneficiamento dos produtos. Trabalhamos principalmente com os derivados da mandioca, a farinha amarela, a goma de tapioca, o carimã, os beijus, o tucupi preto, que vem a partir do tucupi amarelo, que é o sumo da mandioca. Também trabalhamos com geleias de frutos aqui da região, molhos de cogumelos nativos da floresta amazônica”, complementa Mariane.
Raquel Tupinambá, filha da comunidade, é mestra em Botânica e doutoranda em Antropologia e está por traz da inovação de produtos à base de mandioca, principal alimento beneficiado pela associação. As mulheres produzem desde o vinho de mandioca chamado Mani-Oara ao aclamado tucupi preto, batizado de Manibé e conhecido como Shoyu da Amazônia, que pode ser consumido em saladas, peixes e frangos, com um sabor característico amazônico.
“O tucupi preto vem do tucupi amarelo, que é o suco da mandioca, então o que faz que ele se torne um produto diferente? É um processo de cozimento muito mais demorado, onde vai havendo uma redução do tucupi e temos um alimento maravilhoso, com um sabor diferente, uma coloração diferente e utilizamos como tempero”, explica Raquel.
Com uma unidade de beneficiamento da mandioca em fase de construção na comunidade, a associação vai além. Elas garantem que mais do que a geração de renda, a organização coletiva e os produtos chamam atenção para a riqueza e importância da defesa das matas, das florestas e do rio Tapajós.
“Uma outra questão que tem nos motivados a nos organizar enquanto produtoras, enquanto mulheres... é a defesa da floresta, do nosso modo de vida, do nosso bem viver. A gente tem sido cada vez mais ameaçadas, são muitas pressões que a gente vivencia do grande capital e temos entendido que as florestas, os rios limpos, são essenciais para a nossa existência”, comenta Raquel.
Em meio à emergência climática, a associação cumpre ainda o papel de conscientização e formação em defesa do meio ambiente.
“A relação entre humanos e floresta é necessária para a nossa existência enquanto população humana vivendo no planeta. A gente precisa ter essa boa relação para continuar existindo e os povos indígenas sempre souberam disso, então temos hoje essa oportunidade de passar a valorizar esse olhar, a cosmovisão, o modo de vida indígena. É nesse sentido que nós temos trabalhado aqui no meu território, junto com as mulheres, pensando o enfrentamento à emergência climática, à destruição das nossas vidas, das florestas, dos rios, e ao mesmo tempo o empoderamento das mulheres, do povo, fortalecendo a nossa cultura."
Edição: Matheus Alves de Almeida