A organização não-governamental (ONG) Católicas pelo Direito de Decidir mobiliza, junto com a Marcha Mundial das Mulheres, um dos atos pelo Dia Internacional da Mulher em São Paulo nesta sexta-feira (8). O grupo reúne milhares de católicas que lutam pela legalização do aborto, um tema ainda polêmico e muito discutido na sociedade e, sobretudo, por mulheres.
Letícia Rocha, integrante da ONG, afirma que o debate em torno da defesa da vida esconde uma tentativa de poder e controle sobre o corpo das mulheres.
"O que está por trás, o pano de fundo de toda essa questão, é o controle sobre essa possibilidade das mulheres de gestar. Cada vez mais, nós temos um acirramento de grupos que se intitulam pró-vida, grupos desse pró-ativismo conservador [...] Nós temos um recrudescimento disso tudo com graves consequências para a vida de mulheres, meninas e pessoas que gestam. Isso impossibilita os direitos, porque esses grupos vão tendo uma inserção nas políticas públicas", conta.
Atualmente, na legislação brasileira, o aborto só é permitido em casos de estupro, quando há risco para a vida da mulher e se constatada anencefalia fetal.
Quem precisa fazer o aborto sem se encaixar em alguma dessas situações, muitas vezes procura o procedimento clandestino e fica exposta a grandes riscos. O maior sofrimento fica com as classes mais pobres, que passam pelo processo sob condições mais precárias, denuncia Letícia Rocha.
A ativista comenta que a pressão religiosa impacta o direito ao aborto mesmo nos casos previstos em lei. "Dificulta chegar essa discussão à maioria da mulheres [...] mulheres que aderem a essas tradições religiosas, onde chega esse discurso do medo, esse discurso do inaudito, do pecado, de algo que não pode acontecer. Não chega uma discussão que as ajude a ver esse procedimento como algo tranquilo, como algo que acontece, que sempre aconteceu e que pode acontecer como algo de saúde", pontua.
Na França, onde o aborto já era permitido por lei desde 1975, o Parlamento aprovou incluir o direito na Constituição na última segunda-feira (04). Nesta sexta, a medida foi promulgada. O país se tornou o primeiro do mundo a tornar a interrupção voluntária da gravidez um direito previsto constitucionalmente, dificultando tentativas de impossibilitá-lo.
A integrante da Católicas pelo Direito de Decidir celebra a decisão: "Isso é histórico! Eu penso que a gente aqui desde o Brasil acolhe com alegria e com esperanças também, né? Aqui em todo o nosso território latino-americano e caribenho. [Esperança] de que essa decisão francesa reverbere também por aqui e que traga bons frutos. Que comece a ventilar novos ares, [...] que aconteça e que seja a realidade aqui em nossos contextos."
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta sexta-feira (08) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.
E tem mais!
Roçado das Marias
Em Pernambuco, o setor de gênero do MST está incentivando a produção do chamado "Roçado das Marias", que são lotes de acampamentos e assentamentos coordenados exclusivamente por mulheres.
Feminismo e Revolução
Filha do ex-presidente cubano Raul Castro e da ativista feminista Vilma Espín, Mariela Castro Espín seguiu o caminho dos pais e dedica sua carreira ao direito das mulheres e das pessoas LGBT.
O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Matheus Alves de Almeida