O 8 de março, mais uma vez, foi marcado por mobilizações de mulheres em todas as regiões do Brasil. No Dia Internacional de Luta das Mulheres, milhares foram às ruas para denunciar o aumento dos casos de feminicídio, defender a reforma agrária popular, exigir a descriminalização do aborto e apoiar a população palestina, que está sendo vítima de um genocídio por parte do governo de Israel.
A Avenida Paulista, na região central de São Paulo, recebeu o maior ato do país. Milhares de pessoas marcharam embaixo de chuva para defender os direitos das mulheres. Entre as palavras de ordem, as de mais destaque foram a defesa da legalização do aborto, a denúncia da violência policial em SP e a solidariedade com o povo palestino. O grito "sem anistia" também ecoou com força na capital paulista.
"Mais umas vezes as mulheres estão na rua para defender seus direitos sexuais e reprodutivos, a legalização do aborto, mas também denunciar as privatizações do Tarcísio; denunciar o genocídio negro, que acontece na Baixada Santista; o genocídio palestino que atinge principalmente mulheres e crianças em Israel e também garantir mais verbas para políticas de enfrentamento à violência contra a mulher", destacou Luka Franca, secretária de Organização Estadual do MNU, integrante da comissão organizadora do ato.
#8deMarço ✊🏾🟣
— Brasil de Fato (@brasildefato) March 8, 2024
A chuva paulistana não espantou as manifestantes no ato na capital, que partiu do Masp, na Av. Paulista, e segue acontecendo. A legalização do aborto, as privatizações e o genocídio palestino de Israel estavam entre os destaques.
📸 Geisa Marques pic.twitter.com/Wyppz4NnPo
No Recife, o ato se concentrou no Parque Treze de Maio, no centro da cidade, e seguiu até o Armazém do Campo. O movimento pauta a luta contra violência, pela legalização do aborto, o racismo ambiental e contra as privatizações. O ato contou com a participação do movimento estudantil, sindical, coletivos feministas, representantes indígenas, do movimento negro e da população LGBTQIA+.
"A gente está pautando especialmente a vida de todas as mulheres. Queremos dialogar com as causas urgentes do Brasil hoje. Vencemos nas urnas mas ainda enfrentamos o bolsonarismo e uma ideologia de estado que privatiza nossas águas, nossos serviços públicos. As mulheres são as maiores vítimas da pobreza e da violência", resumiu Elisa Maria, integrante do Movimento Brasil Popular em Pernambuco.
Em Brasília, um grupo de cerca de 300 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou um protesto em frente à embaixada de Israel para denunciar o genocídio do povo palestino e exigir um cessar-fogo imediato dos bombardeios contra Gaza.
"Nos solidarizamos com o povo palestino porque entendemos que estamos unidos na luta pela terra. Nossas famílias, posseiros, agricultores pobres, trabalhadores rurais, foram expulsos do campo para expansão do agronegócio. Nossa dignidade deu lugar aos milhões de hectares de soja, milho, algodão e eucalipto", diz o movimento em nota.
Os ataques na região da Faixa de Gaza já perduram cinco meses, depois que o Hamas – grupo armado palestino que governa a Faixa de Gaza – fez um ataque em Israel, em 7 de outubro do ano passado. De lá para cá, Israel já matou pelo menos 30.717 palestinos e deixou outros 72.156 feridos. Dos mais de 30 mil palestinos mortos, 25 mil são crianças e mulheres, de acordo com o governo dos Estados Unidos, principal aliado israelense.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres, 85% do total de 2,2 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados de suas casas e seguem a ser empurrados cada vez mais para a fronteira com o Egito – quase um milhão são mulheres.
Contra o feminicídio
Em São Paulo, cerca de 200 mulheres integrantes do MST fizeram uma manifestação em frente à loja Conceito AMTT, revendedora de armas das empresas de armas e cartuchos Taurus e CBC. A ação destacou o aumento do feminicídio no país, a flexibilização do acesso a armas de fogo e a exportação de materiais bélicos a Israel.
Só em 2023, 1.463 foram vítimas desse tipo de crime, de acordo com o Anuário brasileiro de Segurança Pública 2023, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e publicado nesta quinta-feira (7). A quantidade de feminicídios aumentou 1,6% em relação a 2022. De acordo com o relatório, é o maior número já registrado desde a tipificação da lei, em março de 2015.
Ainda segundo o relatório, as armas de fogo são o principal instrumento utilizado nos casos de feminicídio no Brasil: 68,6% dos casos foram praticados com esse tipo de instrumento. Em 2022, 783.385 pessoas foram registradas como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), sete vezes mais do que em 2018. Quanto às munições, foram 420,5 milhões apenas no ano passado, um aumento de 147% desde 2017.
Mulheres do MST também ocuparam três sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), como parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que teve início na quarta-feira (6). Cerca de 1,2 mil militantes foram às sedes estaduais do órgão em São Paulo, Natal (RN) e Fortaleza (CE) sob o lema "Lutaremos! Por nossos corpos e territórios, nenhuma a menos!".
Em São Luís, capital do Maranhão, as mobilizações deste 8 de março começaram junto ao Palácio dos Leões, sede do governo do estado. As mulheres participantes do ato foram barradas pela Polícia Militar. O ato prosseguiu, e foi protocolada uma carta ao desembargador presidente do Tribunal de Justiça do estado com medidas urgentes e alertas aos impactos da Lei da Grilagem.
Houve mobilização de mulheres sem terra também no Rio Grande do Norte. Mulheres marcharam e ocuparam a sede do governo do estado, em Natal em um ato de resistência e cobrança ao governo para efetivação da pauta do movimento.
Já no Mato Grosso, centenas de mulheres do campo, das águas, das florestas e das cidades foram até a Assembleia Legislativa do estado, em Cuiabá, para protestar contra a violência e reivindicar a reforma agrária neste 8 de março.
Cerca de 500 famílias vinculadas ao MST ocuparam a fazenda "Aroeiras", em Lagoa Santa (MG), neste 8 de março. A ação é motivada pelo não cumprimento da função social da terra, já que a propriedade abandonada é improdutiva. O MST pede que a área seja destinada à reforma agrária.
Mais de 500 trabalhadoras do campo participaram do ato das Mulheres Sem Terra do Paraná na manhã desta sexta, 8 de março. Elas saíram em marcha no município de Porecatu, norte do estado, em atividade da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra.
Mulheres do campo, das águas, das cidades e das florestas se uniram em manifestação em Vitória, capital do Espírito Santo, e bradaram: "basta de feminicídio!". O ato lembrou as quatro vítimas fatais – todas mulheres – de um ataque a tiros em uma escola do município capixaba de Aracruz, em 2022.
Edição: Thalita Pires