A Petrobras registrou o segundo maior lucro da sua história em 2023, primeiro ano da estatal sob gestão de indicados pelo novo governo do presidente Luiz Inácio da Silva (PT). Foram R$ 124,6 bilhões – 33,8% menos do que os R$ 188,3 bilhões ganhos em 2022, quando ela obteve o maior lucro de sua história e da história de uma empresa nacional. Os novos resultados foram divulgados na noite de quinta-feira (7).
A redução no lucro tem a ver com a queda no valor do petróleo no mercado internacional e também com a redução do preço dos combustíveis vendidos pela estatal internamente, algo que foi prometido por Lula durante sua campanha eleitoral.
Está ligado também ao aumento do investimento da empresa, outra promessa de Lula. Em 2023 a estatal investiu US$ 12,67 bilhões, 29% a mais do que em 2022.
De acordo com o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo (OSP), o valor investido está abaixo do registrado ao fim da década de 2000 e início de 2010. No entanto, é o maior verificado desde 2018.
"Este aumento de investimentos também impacta o lucro, pois aumentam a despesa. São R$ 14 bilhões a mais do que em 2022", afirmou ele, que não vê esse gasto como algo negativo.
O diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos dos Santos, também comemorou o lucro e o retorno dos investimentos da Petrobras. "Após anos de desmonte, venda de ativos estratégicos e descapitalização via pagamento de megadividendos, a Petrobras mostrou resiliência, ampliou investimentos e fechou 2023 com um lucro líquido positivo", disse.
Gasolina mais barata
Sobre o petróleo e os combustíveis, Dantas afirmou que o barril do óleo, responsável indiretamente por 92% das receitas totais da Petrobras, ficou 21% mais barato entre 2022 e 2023. Isso afetou os lucros da empresa.
A queda do petróleo levou à redução dos os preços dos derivados – gasolina e diesel, por exemplo – no país. Eles baixaram 20% no país, segundo a OSP. Comprometeram, assim, uma atividade responsável por 67% das receitas da companhia, apesar dos efeitos positivos dessa queda para a economia nacional e o controle da inflação.
"A Petrobras vendeu [derivados] apenas um pouco abaixo dos preços internacionais em 2023, mais especificamente 5% abaixo na gasolina e 4% abaixo no diesel S-10", acrescentou Dantas. "Nada fora do que já vinha acontecendo no governo Bolsonaro, que por conta das pressões políticas e da inflação, vendia os produtos um pouco abaixo do PPI [preço de paridade de importação]. Isso mostra que há espaço para preços menores nos derivados, sem prejudicar a solidez financeira da companhia."
Dividendos
A Petrobras também anunciou na quinta-feira que pagará R$ 72,4 bilhões em dividendos referentes ao seu resultado em 2023. Dos Santos, do Ineep, lembrou valor inferior aos dividendos extraordinários pagos no último biênio – média anual de R$ 155,7 bilhões –, mas 12 vezes maior que a média observada entre 2003 e 2020 – R$ 5,9 bilhões.
Em conferência com investidores realizada nesta sexta-feira (8), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, informou que a companhia segue comprometida com o retorno financeiro de seus acionistas –inclusive, da União, que detém 37% das ações da estatal. No entanto, lembrou que a Petrobras mudou sua política de pagamento de dividendos justamente para ter espaço financeiro para investir mais. "Estamos construindo uma Petrobras mais forte e resilientes para ganhos a longo prazo", lembrou.
Durante o dia, após a divulgação do balanço da Petrobras, as ações da empresa negociadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3, chegaram a cair mais 8%, em parte por conta da opção da empresa em reduzir a remuneração de seus acionistas.
Prates ressaltou que a Petrobras deu retorno de cerca de 120% aos detentores de suas ações na bolsa de valores de Nova York em 2023. O retorno considera o valor pago pela ação, sua valorização e a remuneração distribuída pela empresa. Segundo ele, na média, as grandes petroleiras do mundo deram retorno de 20% a investidores.
"Nunca negligenciaremos a geração de valor econômico", complementou Prates.
O economista Pedro Faria, que trabalha na Petrobras, afirmou que o lucro de outras petroleiras caiu ainda mais que o da estatal em 2023.
Queda de lucro de petroleiras
— Pedro Faria (@eupvfaria) March 8, 2024
Chevron: 40%
BP: 37%
ExxonMobil: 35%
Shell: 30%
Petrobras: 33,8%. Teve 2° maior lucro da história sem vender ativos. E guardando recursos para investir. Ganha o acionista de longo-prazo: o povo brasileiro. Perde quem queria desmontar a empresa. pic.twitter.com/GnaV8VhHTC
Opção da empresa
O diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Sergio Caetano Leite, disse na conferência que a empresa até teria caixa para pagar mais dividendos a acionistas. Seu conselho de administração, porém, optou por poupar esse dinheiro visto que, em 2024 e 2025, a empresa espera fazer investimentos robustos, o que tende a comprometer seu lucro. A poupança este ano serviria, portanto, para garantir o pagamento de dividendo nesses próximos dois anos.
Leite também ressaltou que o lucro da Petrobras caiu já que a empresa não privatizou patrimônio. Em 2023, o valor recebido com a venda de ativos, ainda que por valores abaixo do mercado, engordava o lucro.
Dantas, do OSP, acrescentou que a Petrobras pagou em 2023 o equivalente a 29% do total de dividendos distribuídos por empresas listadas na B3. Em 2022 esse percentual havia sido de 39%. "A política de dividendos da Petrobras já é excessivamente bondosa com os acionistas e ruim para a estatal", disse ele. "É bom lembrar que ao longo do governo Bolsonaro, houve momentos em que a Petrobras distribuiu mais dividendos do que teve de lucro, um saque à companhia."
Edição: Thalita Pires