Desde 1985, a história aponta o que tem sido uma regra para o PT de Curitiba nas eleições municipais: se lançar como cabeça de chapa na disputa à prefeitura. A exceção aconteceu apenas uma vez, em 2012, quando o partido apoiou o nome de Gustavo Fruet (PDT) e indicou a vice Mirian Gonçalves (PT).
Para as eleições de 2024, o PT aponta tendência de sair da sua regra histórica e não indicar nome próprio como candidato à prefeitura. A corrente majoritária — Construindo um Novo Brasil (CNB) — defende a política de aliança em frente ampla. O nome mais cotado para ser o candidato é o deputado federal e ex-prefeito Luciano Ducci (PSB).
Por outro lado, tendências internas do PT rejeitam o nome de Ducci e defendem a candidatura própria. Dos quadros petistas, já se colocaram à disposição do partido a deputada federal Carol Dartora, o deputado federal Zeca Dirceu e o advogado Felipe Mongruel, conhecido como Magal.
No último dia 2, o diretório municipal do PT fez uma reunião para definir o rumo do partido nestas eleições municipais. Para um lado sair vitorioso, precisaria atingir dois terços dos votos do total de integrantes do diretório.
Após horas de debates, foram 24 votos favoráveis à frente ampla e 19 pela candidatura própria. O martelo será batido em um Encontro Municipal do partido no dia 7 de abril, com consulta e deliberação de filiados e filiadas.
Passado e futuro
A mesma divergência interna entre lançar candidatura própria ou apoiar outro candidato foi vivida pelo PT em 2012. Venceu a política de aliança, com apoio ao pedetista Fruet e o PT compondo a chapa como vice.
Nas eleições daquele ano, Luciano Ducci também estava no jogo: vice de Beto Richa, ele assumiu a prefeitura quando o tucano foi para o governo, e tentava sua reeleição. Outro concorrente era o atual governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que foi ao segundo turno contra Fruet. Saiu vitoriosa a chapa PDT/PT.
Na conjuntura nacional, Dilma Rousseff (PT) estava em seu primeiro mandato como presidenta da República. Poucos meses após as eleições municipais de 2012, o país começaria a ver as primeiras grandes manifestações pedindo o impeachment da presidenta e o governo entraria em uma crise incontornável.
A experiência única de apoio a candidato de outro partido, em 2012, mostrou-se um erro, na visão de Doutor Rosinha, figura histórica do PT. "Qual foi o comportamento do Gustavo [Fruet]? Calou-se, quando ainda não fez várias críticas ao PT e à Dilma, dentro de um falso moralismo. Ele rompeu com os aliados da eleição e nós não tivemos o prefeito da capital defendendo a Dilma", avalia.
A escolha de apoiar novamente um candidato alinhado à centro-direita, como Ducci, de acordo com o petista, pode não apenas ser a repetição de um erro, como também enfraquecer o partido junto a seus militantes.
"Sem candidatura própria o PT sairá muito enfraquecido e até sem incentivo da militância. Quem defende a candidatura própria é o militante do dia a dia, aquela pessoa que está comprometida com o partido, que foi para a rua na campanha do Lula", pontua.
Defesa do governo Lula
A ala que defende a frente ampla em Curitiba aponta que a estratégia para as eleições de 2024 deve preparar o terreno para as eleições presidenciais de 2026, por orientação do diretório nacional do PT.
"Nosso objetivo é fazer uma força política para a eleição municipal em que estejam todos que estarão em 2026 e assumam as nossas bandeiras em um palanque só. [...] Para que a gente tenha um palanque unido para derrotar o bolsonarismo, frear o lavajatismo e derrubar o 'ratismo' no Paraná", diz Arilson Chiorato, presidente do PT-Paraná.
Ele pondera que o nome a ser defendido pela frente ampla ainda não está definido. As tratativas estão sendo feitas em torno dos nomes já colocados pelos partidos que devem compor a frente, e "lá na frente a gente escolhe o candidato ou candidata que tiver melhores condições eleitorais", pontua Chiorato.
Analisando os nomes que já se colocaram como pré-candidatos à prefeitura de Curitiba, o presidente do PT-PR afirma que a escolha pela frente ampla é um esforço para prevenir um cenário sem o campo progressista em um possível segundo turno.
"Se a gente tiver esse modelo não unificado, a gente corre o risco de não estar no segundo turno. Ter a disputa, por exemplo, de Paulo Martins e [Eduardo] Pimentel, Ney Leprevost e Pimentel, Deltan Dallagnol e Pimentel, Deltan Dallagnol e Ney Leprevost, Deltan e Paulo Martins…e nós, do campo centro esquerda, ficarmos de fora", analisa Chiorato, citando pré-candidatos de direita.
Bolsonarismo forte
Tal análise, no entanto, não é consenso no partido. Doutor Rosinha é taxativo ao dizer que apenas a candidatura própria será capaz de fortalecer e defender o governo Lula. Ele entende que o PT Nacional "não está conseguindo fazer a leitura do que é Curitiba".
"Aqui, o bolsonarismo é muito forte e o jeito de fazer o enfrentamento é com candidatura própria. Se nós sairmos com ele [Ducci] não vamos enfrentar o bolsonarismo. Até porque na cassação da Dilma ele se comportou de uma maneira quase igual ao Bolsonaro", pontua.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano