O hip-hop é responsável pela diminuição de problemas sociais
"Não é apenas uma alternativa para comunidades carentes, mas oferece para toda a sociedade uma visão da realidade enfrentada por esses jovens", defende a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB-SP) sobre a aprovação do projeto de lei que tornou o hip-hop em patrimônio cultural imaterial do Estado de São Paulo.
Em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (12), a parlamentar comemorou a aprovação da proposta de sua autoria. "O hip-hop está completando agora 50 anos e a gente tem reconhecimento por essa luta das juventudes da periferia, de todas as batalhas que eles fazem pela cultura desse país."
Cantora, compositora e ícone do samba, Leci Brandão atua na política desde 2010, quando se filiou ao Partido Comunista do Brasil. Concorreu naquele ano à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), foi eleita e desde estão se mantém no cargo.
"Sou a segunda mulher negra a entrar nessa Assembleia, então daí a minha felicidade quando a gente conquista alguma coisa que é do povo, que nos colocou aqui dentro. Esse povo tem que ter o seu lugar, tem que ter a sua ideia colocada e respeitada na cultura. Por isso que a gente pediu o hip-hop com o patrimônio cultural", afirma a deputada.
A parlamentar conta que, apesar de ter uma atuação mais próxima do samba, sempre esteve envolvida com o hip-hop, movimento capaz de atuar em espaços que o Estado está ausente.
Potente para aumentar a estima e direcionar a energia de sua comunidade, a cultura hip-hop incentiva projetos sociais, culturais e econômicos de grande impacto. Confira a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: Deputada, como surgiu essa proposta e qual é a importância de tornar o hip-hop em patrimônio cultural?
Leci Brandão: Quem acompanha a nossa carreira artística há alguns anos sabe que embora seja uma pessoa de onda do samba, Estação Primeira de Mangueira, comentarista de Carnaval... Enfim, essa coisa toda. Mas a gente sempre teve um respeito e uma admiração por essa turma jovem do hip-hop.
Tanto que nós gravamos com o Rappin Hood algum tempo atrás. Depois fizemos uma música também com o Mano Brow.
Eu sempre estive presente nos shows, sempre prestigiei e sempre me senti muito honrada de poder gravar com eles.
O hip-hop está completando agora 50 anos e a gente tem reconhecimento por essa luta das juventudes da periferia e de todas as batalhas que eles fazem pela cultura desse país.
Essa proposta surgiu de alguma forma em diálogo com esses grupos de hip-hop? Havia uma demanda dessa galera que faz hip-hop?
Não, já vem de antes. O nosso mandato, o nosso gabinete é chamado de quilombo da diversidade. Sendo um quilombo da diversidade, a gente tem aqui a representação de alguns segmentos, entre eles o hip-hop.
Eu já sabia que eles iam completar 50 anos, então estávamos com isso. O projeto já estava colocado, é de 2023, declarando o hip-hop patrimônio cultural em material do Estado de São Paulo.
Eu acho que o nosso comportamento aqui na Casa ajudou para aprovação. Porque eu cheguei para defender algumas plataformas da sociedade brasileira e dentre elas está a questão do hip-hop, do samba, enfim, outras coisas mais.
Nós colocamos esse projeto para ser votado e finalmente, graças a Deus, em homenagem ao aniversário de 50 anos de hip-hop, ele foi aprovado e agora é patrimônio cultural imaterial do Estado de São Paulo.
Na sua avaliação, existe algum tipo de preconceito com a cultura hip-hop?
O que vem da comunidade, principalmente do pessoal que é da favela, da juventude que é mais pobre, são os recados que esse movimento faz nas suas músicas.
Você sabe que nós temos um país que, infelizmente, tem uma sociedade muito racista. É uma sociedade que não aceita nada da cultura que vem do seu popular.
Aqui dentro eu tenho a missão de poder, aos poucos, ir implementando alguns caminhos que possam valorizar cada vez mais a população mais carente, a população das vielas, das favelas, dos morros, da periferia, para que haja um pouco mais de igualdade.
Principalmente à cultura, tem que ter igualdade, tem que haver respeito, e é dessa forma que eu me conduzo nessa casa parlamentar, muito embora não tenha a formação intelectual, a formação acadêmica, teórica da maioria dos parlamentares.
Mas eu devagarzinho eu vou colocando algumas coisas que fazem parte da minha história de cidadã, da minha história de mulher que vem da origem humilde, que vem de uma servente de escola, que era a minha mãe, com muito orgulho. Eu sempre fiz questão de mostrar qual é a minha formação e como é que eu cheguei aqui em São Paulo, na Assembleia Legislativa.
Sou a segunda mulher negra a entrar nessa Assembleia, então daí a minha felicidade quando a gente conquista alguma coisa que é do povo, que nos colocou aqui dentro. Esse povo tem que ter o seu lugar, tem que ter a sua ideia colocada e respeitada na cultura. Por isso que a gente pediu o hip-hop com o patrimônio cultural.
Você acha que esse projeto aprovado, tornando hip-hop em patrimônio cultural e material, ele tende a contribuir para uma luta antirracista, ele tende a fortalecer projetos que enfrentam essa realidade racista que a gente ainda vive?
É, concordo com você, tende a fortalecer, principalmente fortalecer a questão da população negra no Brasil. Ela tem que estar sempre recebendo influências e recebendo força, projetos iniciativos, que possam fazer com que esse segmento, que essa população negra e periférica tenha o seu lugar de fala, que ela possa cada vez mais acreditar que é uma coisa que tem valor, tem história.
É por isso que a gente está sempre, de uma forma ou de outra, procurando reavivar essas lutas, essas questões.
Deputada, agora, quais são os próximos passos para esse projeto?
A Secretaria de Estado da Cultura tem tido uma atuação muito positiva em relação às nossas coisas aqui. Eu não tenho que falar da Secretária.
Agora, é claro que o Poder Executivo, o governo... Enfim, acredito que não haja nenhum impedimento para que essa coisa realmente exista e que seja vivida, que seja exercida de verdade.
Eu quero evidenciar uma coisa que é que o hip-hop é responsável pela diminuição de problemas sociais.
Não é apenas uma alternativa para comunidades carentes, mas oferece para toda a sociedade uma visão da realidade enfrentada por esses jovens.
Ela é capaz de aumentar o estima, direcionar a energia dessa comunidade, a cultura hip-hop incentiva diversos projetos sociais, projetos culturais e econômicos de grande impacto que não são desenvolvidos pelo Estado.
Eu acho que a importância da cultura hip-hop para a sociedade fica justificada para assegurar a sua preservação como patrimônio do Estado de São Paulo.
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Edição: Matheus Alves de Almeida