A nova derrota parlamentar do presidente argentino Javier Milei na noite de quinta-feira (14) gerou uma série de críticas de seus apoiadores à vice-presidente Victoria Villarruel. Foi ela quem propôs a discussão no Senado dos Decretos de Necessidade e Urgência (DNU) pacote de medidas ultraliberais apresentado por Milei em dezembro passado, dias antes de sua posse como presidente.
Composto por uma série de medidas legislativas que permitem ao Executivo legislar sem passar pelo rito tradicional do Congresso, o pacote foi derrotado no Senado argentino por 42 votos contrários, 25 a favor e 4 abstenções.
Vilarruel foi atacada nas redes pela militância do partido governista A Liberdade Avança e tentou se defender. “Meu compromisso com Milei é inabalável”, postou a vice, após o comunicado divulgado pela gabinete da Presidência, em que Milei agradece "aqueles legisladores que, comprometidos com os interesses da Pátria e o caminho da mudança, não se prestam ao jogo perverso daqueles que decidiram deliberadamente entorpecer o desenvolvimento da nação".
"Tanto o tratamento apressado do DNU 70/23 como a iniciativa de promover uma fórmula jublilatória sem consenso violentam o espírito de acordo promovido pelo presidente em sua convocatória do Pacto de Maio.", diz o comunicado, que alguns analistas entenderam como uma crítica velada à Vilarruel, pela condução do processo.
Apesar de ter proposto a sessão no Congresso, ela tentou articular o adiamento da votação, mas foi surpreendida pela articulação rápida da oposição no Senado, que garantiu o quórum para a votação e derrubou a proposta ao final da sessão legislativa desta terça.
Milei distribuiu críticas aos parlamentares em suas redes sociais, compartilhou uma publicação que tratava os senadores como “criminosos”, e dirigiu críticas ao presidente da UCR, partido de sua base parlamentar, Martín Lousteau, por ter votado contra o DNU. “Ele nunca ganhou nada e sempre traiu. Colocou-nos à beira de uma guerra civil e continua a prejudicar a democracia, sendo desprezível”, escreveu Milei.
O DNU, que revoga uma série de leis argentinas, segue em vigência até a votação final que será na Câmara dos Deputados, onde pode ser definitivamente enterrado pela oposição, aprofundando a crise no governo argentino.
Essa é a segunda derrota importante para Milei no Congresso argentino, três meses após sua posse. No início de fevereiro, outro pacote ultraliberal do Executivo, conhecido como "Lei Ônibus" foi derrotado na Câmara dos Deputados após uma intensa mobilização popular.
Repressão
Durante a votação no Congresso, a polícia de Buenos Aires reprimiu com violência o protesto contra o corte anunciado pelo governo Milei de fomento ao cinema argentino, com mudanças orçamentárias no Instituto Nacioanal de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa).
Os cortes no Incaa, assim como o fechamento da agência pública de notícias Télam, do Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (Inadi), e a demissão em massa na empresa Areolíneas Argentinas foram alvo de protestos das mulheres durante o 8M na Argentina.
*Com Página 12
Edição: Rodrigo Durão Coelho