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'A sociedade está aceitando a pena de morte': ato em SP pede fim de operação policial na Baixada Santista

Enquanto protesto denuncia a Operação Verão, que já matou 48 pessoas, Tarcísio vai a Israel para 'troca de tecnologias'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ato aconteceu nesta segunda-feira (18) - Gabriela Moncau

Sob o mote "Pelo fim da violência e do racismo policial", entidades do movimento negro, abolicionista e de familiares de vítimas da violência do Estado fizeram um ato no centro da capital paulista na noite desta segunda-feira (18). A reinvindicação é o fim da Operação Verão (também chamada de Operação Escudo), implementada pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e seu secretário de segurança pública, o ex-policial da Rota Guilherme Derrite, que está momentaneamente afastado da secretaria.

Desde que a intervenção policial se intensificou na Baixada Santista em 7 de fevereiro, como resposta à morte do sargento da Rota Samuel Wesley Cosmo, a polícia assassinou ao menos 48 pessoas. De acordo com o governo do estado, todas as mortes foram decorrentes de confronto. Moradores da região, entidades de direitos humanos, movimentos sociais e a Ouvidoria da Polícia atestam, no entanto, que a operação é marcada por torturas e execuções sumárias. Quando questionado sobre o encaminhamento destas denúncias à ONU, o governador Tarcísio declarou: "não estou nem aí".

A manifestação se concentrou no Largo São Francisco, ao lado da Secretaria de Segurança Pública – que foi rodeada por grades e viaturas da Polícia Militar. A segurança da Faculdade de Direito – palco de um evento em defesa da democracia antes da eleição presidencial de 2022 - impediu que uma faixa do Movimento Negro Unificado (MNU) fosse esticada na varanda do prédio. 

"Quando a gente usa a pauta 'morreu porque trocou tiro', como é o relato da polícia, a sociedade está aceitando que exista pena de morte. Hoje não temos respeito dentro da nossa comunidade. Quem mora em situação de risco passa por constrangimento. A gente sabe que existe uma diferença muito grande do Morumbi, dos bairros nobres, para a nossa favela. Nossa favela para o Estado pouco interessa", diz a rapper e ativista Andreia MF, moradora da Baixada Santista. 

"Contra o genocídio", "não é operação, é chacina" e "é urgente interromper Tarcísio e Netanyahu" estampavam alguns dos cartazes da manifestação. Nesta segunda-feira, o governador paulista chegou a Israel a convite do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. À imprensa, Tarcísio declarou que a visita visa estreitar relações e "trocar experiências para o desenvolvimento de novas tecnologias no Estado".

"A gente reivindica que a polícia faça o trabalho dela e não faz parte do trabalho da polícia matar as pessoas. E olha só quem morre, né?", ressalta a educadora popular Luana Oliveira, da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio. "A gente verifica que os BOs são inconsistentes, que têm informações mentirosas, que a polícia está entrando nas comunidades com mochila para plantar armas e drogas para justificar a matança que está acontecendo", denuncia.

"A polícia sob comando do Derrite e do Tarcísio contraria todos os protocolos. Não existe protocolo dentro de favela. Eles simplesmente invadem casas e matam pessoas. E é isso que a gente pensa que tem que acabar, chega de criminalizar a pobreza", defende Luana.

Com uma caixa de som, ativistas, parlamentares e mães de vítimas da violência policial alternaram falas denunciando a Operação Verão, que é a mais letal operação institucional das forças de segurança de São Paulo desde o massacre do Carandiru, em 1992.

"Para as pessoas da periferia não existe presunção de inocência. Já estão colocadas enquanto suspeitas dentro desse cenário que o Estado constrói. E no imaginário de boa parte da sociedade essas pessoas de fato são matáveis", afirma Fábio Pereira, da Amparar e da Frente pelo Desencarceramento de SP. 

"Então aqui hoje estamos dialogando e trazendo a perspectiva daqueles que de fato são atingidos. Grande parte das pessoas que estão aqui são oriundas das quebradas, tanto da Baixada quanto de São Paulo e que estão colocando a sua cara para falar: 'a gente não quer mais isso'", ressalta.

Entre as entidades organizadoras do protesto estão Uneafro, Movimento Negro Unificado (MNU), Amparar, Frente pelo Desencarceramento de SP, Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio, Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo, Marcha das Mulheres Negras SP, Movimento Quilombo Raça e Classe, Fórum em Defesa da Vida, os mandatos Bancada Feminista (PSOL) e Quilombo Periférico (PSOL), entidades do PT, o PSTU e a Unidade Popular (UP).

Edição: Thalita Pires