Na última quinta-feira (14), o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) protocolou na Câmara Municipal de São Paulo o pedido de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o padre Júlio Lancellotti por supostos crimes contra a população em situação de rua da capital paulista.
O pedido de CPI protocolado tem a assinatura de 19 vereadores e é a segunda tentativa de Nunes de usar a estrutura da Câmara Municipal para investigar Lancellotti. Na primeira, no começo de dezembro de 2023, 25 vereadores assinaram o pedido de criação da comissão, que não falava sobre o padre em seu texto original.
A perda de sete apoios é significativa e deixa Nunes ainda mais longe da instalação da CPI. Isso porque, para que a comissão passe a funcionar são necessários 28 votos favoráveis quando o plenário da casa apreciar o pedido, o que pode ocorrer ainda nesta semana.
Usando denúncias contra o padre Júlio Lancellotti feitas pelo Movimento Brasil Livre (MBL), movimento que liderou em São Paulo, Nunes diz, no texto do pedido de CPI, que o objetivo da comissão é "apurar a dignidade da pessoa humana, em especial crimes contra a liberdade sexual, assédio moral, sexual, psicológico e abusos congêneres cometidos contra pessoas em situação de rua, vulnerabilidade e drogadição".
Caso seja instalada, a Câmara Municipal de São Paulo terá uma comissão formada por sete vereadores, que durante 120 dias de 2024, um ano eleitoral na capital paulista, investigarão a vida de um padre e crimes, que se forem críveis, deveriam ser casos para apuração da Polícia Civil ou do Ministério Público, mas não de uma casa legislativa.
Na primeira tentativa de CPI, Nunes mirou no Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto e o grupo A Craco Resiste, ambos com larga atuação na região conhecida como Cracolândia, no centro de São Paulo. Em nenhum momento, o vereador citava Julio Lancellotti no texto.
Porém, após Nunes insistir em perseguir o padre em suas redes sociais, ameaçando o clérigo com a instalação da CPI e a investigação de sua vida, sete vereadores recuaram e pediram para que suas assinaturas fossem retiradas do documento, ato que não é permitido pelo regimento da casa.
Nas redes sociais e dentro da Câmara Municipal, o pedido de CPI de Nunes passou a ser perseguido e a oposição afirmou que, diante da fixação do vereador do MBL com o padre, a figura do líder religioso deveria aparecer nominalmente no documento de criação da comissão.
No primeiro pedido de CPI, Nunes alegava que os grupos faziam apologia ao uso de drogas ao adotar a política de redução de danos, que consistiria, de acordo com o vereador, na distribuição de seringas na Cracolândia.
Porém, nenhuma das duas entidades distribuíram, em qualquer momento de suas histórias, insumos para as pessoas em situação de drogadição na Cracolândia.
Edição: Matheus Alves de Almeida