Em depoimento à Polícia Federal, o homem que aparece em um diálogo no WhatsApp pedindo uma chuteira em troca de voto em André Fufuca (PP), então candidato a deputado federal pelo Maranhão, disse não se recordar do diálogo. Ele também afirmou não se lembrar se era o titular da linha telefônica registrada em seu nome na época do ocorrido. A suspeita de compra de votos para favorecer Fufuca, atual ministro dos Esportes, foi revelada pelo Brasil de Fato.
O investigado é Carlos Henrique Silva Oliveira, de 25 anos, morador de Santa Inês (MA). A PF o identificou após encontrar uma conversa de WhatsApp entre ele e um dos investigados pela compra de voto, Caio Rubens Vieira da Silva, que foi flagrado pela PF na véspera da eleição de 2018 com um saco de dinheiro e santinhos do então candidato Fufuca.
Questionado pela Polícia Federal sobre o teor das conversas em audiência por videochamada realizada em 17 de janeiro deste ano, Carlos afirmou que "não possui envolvimento com os fatos investigados; que não conhece as pessoas ligadas aos fatos; que não se recorda se já foi titular da linha telefônica que aparece em seu nome; que não se recorda da existência de conversas relacionadas a prestação de apoio político em troca de doação de tênis de futebol de salão; que mora e vota em Santa Inês; que não exerce qualquer tipo de atividade político-partidária", segundo o termo de depoimento registrado pela Polícia Federal.
Apesar de negar qualquer relação com as conversas e mesmo com a linha telefônica que aparece nos diálogos, a PF confirmou junto à operadora TIM que, no período de janeiro a dezembro de 2018, o número que participa da conversa era de Carlos Henrique. O contato de Carlos, porém, não estava salvo no aparelho de Caio e, na conversa, eles não mencionam seus próprios nomes.
Negociação na véspera da eleição
Como mostrou o Brasil de Fato, na conversa de WhatsApp de 1º de outubro, na semana final da campanha eleitoral, Caio Vieira recebeu um pedido de compra de uma chuteira de um interlocutor que não estava salvo em sua agenda. "Você é algum parente desses deputados ou algo assim?", pergunta o interlocutor.
Caio responde: "Por que pergunta?". "Pq (sic) to precisando de um tênis de futsal para jogar o estadual. Se vc (sic) me ajudar nisso lhe ajudo tbm (sic). Nos 3 representantes seus", segue o interlocutor. Caio pergunta o valor do tênis e ao ser informado que seria R$ 200 pede a numeração do tênis do interlocutor e afirma "vou arranjar".
No relatório da Polícia Federal não fica expresso quais seriam os três representantes aos quais o interlocutor faz referência, mas a PF localizou outro diálogo de Caio no mesmo período, em um grupo com outros cinco eleitores, no qual ele pede votos em troca de dinheiro para os então candidatos André Fufuca (deputado federal), Hemetério Weba (candidato a deputado estadual pelo PP) e Weverton Rocha (candidato a senador pelo PDT). Dos três, formalmente, apenas Fufuca consta como investigado pela Polícia Federal no inquérito.
A conversa avança até os dois chegarem a um valor menor. Segundo a PF, o diálogo indica que Caio teria negociado voto em políticos, dentre eles Fufuca, por troca da chuteira de futebol. Além deste episódio, a investigação identificou outros fatos e diálogos que indicam que Caio teria atuado naquele ano em favor de Fufuca, inclusive oferecendo dinheiro para alguns eleitores.
O Brasil de Fato ainda revelou que, em 2021, Caio assumiu, com apenas 21 anos, uma empresa de engenharia chamada Projeplan, que faturou cerca de R$ 7 milhões nos últimos anos com contratos para obras em prefeituras do interior do Maranhão. Uma das cidades com as quais a Projeplan fechou contrato foi o município de Alto Alegre do Pindaré (MA), governado pelo pai de Fufuca, Fufuca Dantas, no valor de R$ 2,86 milhões. O contrato, fechado a partir de um convênio com a Codevasf, contou com verbas de emendas RP-9, que ficaram conhecidas no escândalo do orçamento secreto e foram consideradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal.
Procurado, o advogado que representa Caio Vieira, Willey Azevedo, informou que seu cliente não iria se manifestar. Questionado pelo Brasil de Fato no ano passado sobre a investigação e os apontamentos da PF, o Ministério do Esporte informou que "o ministro André Fufuca não compactua com qualquer ato ilícito, não é responsável por ação de terceiros e confia que a Justiça vai esclarecer todos os fatos".
Edição: Thalita Pires