Depois de mais de cinco meses de massacre israelense, o Conselho de Segurança da ONU aprovou sua primeira resolução na segunda-feira (25) instando a um "cessar-fogo imediato" na Faixa de Gaza. Resoluções anteriores haviam sido repetidamente bloqueadas pelos Estados Unidos, que desta vez, se abstiveram.
A resolução, aprovada por 14 votos a favor e uma abstenção, "exige um cessar-fogo imediato para coincidir com o mês do Ramadã", que começou há 15 dias. Além disso, ela "exige a libertação imediata e incondicional de todos os reféns" e busca alcançar uma trégua duradoura.
O secretário-Geral da ONU, António Guerrez, disse que a a resolução "há muito aguardada" foi aprovada e que ela deve ser de fato implementada. "Falhar nisso seria imperdoável", disse ele por meio de suas redes sociais.
Na Cisjordânia, representante do partido que controla o território palestino, o Fatah, elogiou a medida como "um passo na direção de encerrar o massacre na Palestina".
"O consenso que testemunhamos hoje pavimenta o caminho para o reconhecimento ainda que tardio dos direitos palestinos e de seu Estado independente", disse Sabri Saidam por comunicado.
Entidades internacionais começaram a repercutir a decisão. O representante na ONU da Human Rights Watch, Louis Charbonneau, disse que israel deve "responder imediatamente, facilitando a entrada de ajuda humanitária e parando de submeter a população de Gaza à fome e cessando ataques ilegais"".
"Grupos armados palestinos devem libertar imediatamente civis feitos reféns. Os Estados Unidos e outros países devem suspender o envio de armas para Israel", disse ele por meio de comunicado.
Estados Unidos
Comentaristas apontam que a abstenção estadunidense indica desacordo entre o país e Israel, de quem é o maior aliado, mas vem criticando o massacre que já causou a morte de mais de 32 mil palestinos, a maioria de mulheres e crianças.
Os EUA vem pressionando Israel a permitir a entrada de mais ajuda no território, cuja população de mais de 2 milhões de pessoas vem sofrendo de fome aguda. A ONU acusa Israel de obstruir a distribuição de comida.
Na semana passada a Rússia havia vetado resolução proposta pelos EUA, por considerar que o texto eximia Israel de responsabilidade e dava ao país carta branca para prosseguir com o massacre de palestinos em Rafah. Mais de um milhão de pessoas vindas de outras parte de Gaza buscaram refúgio dos bombardeios israelenses constantes na cidade ao sul do território, cuja população original não chegava a 300 mil habitantes.
Reação israelense
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que o país não vai interromper as operações militares em Gaza, apesar da resolução. Ele disse que vai reforçar junto ao conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, em encontro marcado para esta segunda-feira que "trabalharemos contra o Hamas em qualquer lugar, incluindo em locais onde ainda não estivemos".
"Identificaremos alternativas ao Hamas, para que as Forças Armadas Israelenses possam completar sua missão. Não temos direito moral de interromper a guerra enquanto ainda reféns ainda estejam cativos em Gaza", disse ele.
Contexto
O atual massacre israelense na Faixa de Gaza - ou operação militar como chama Israel - começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso. O bloqueio israelense de 17 anos - para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder - geraram taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais ultrapassou 32 mil palestinos - cerca de 70% delas mulheres e crianças -, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas. No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho