Nos dias 21 e 22 de março, representantes de povos de terreiro estiveram reunidos no II Encontro Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Terreiros. A data foi escolhida para marcar o primeiro ano da instituição do Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, 21 de março.
O objetivo do evento foi saudar a cultura de matriz africana, a ancestralidade e os saberes, sobretudo, no que diz respeito à religiosidade e ao acesso a direitos constitucionais. Esse ano, o evento discutiu o tema “Do acesso aos direitos à efetivação de políticas públicas”.
Ìyá Márcia d'Ògún, coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro) de Lauro de Freitas e uma das representantes da Bahia no encontro, ressaltou a importância da reunião e a escolha assertiva da data para realizá-la.
“O encontro é a culminância dos diversos encontros do Abre Caminhos que aconteceram em diversas regiões do nosso país. Pra mim, esse encontro é o sinal positivo da retomada da construção de políticas públicas para Povos de Terreiro, mas melhor que isso é saber que somos colaboradores dessa construção. Fomos invisibilizadas por seis anos, e nada mais justo do que fazer reparação retomando um processo que foi interrompido”, afirma.
Durante esses dois dias, foram discutidas questões relevantes a essas comunidades, como preservação cultural, direitos humanos, lutas contra a discriminação e intolerância religiosa, além de promover a troca de experiências e fortalecer os laços entre os participantes.
A secretária da Renafro, Lauro de Freitas Nengwa Elza de Matamba, lembra também a relevância de espaços de fortalecimento, como este encontro, para as comunidades de terreiro. “Conseguimos nos amparar, resistir, projetar ações e pressionar a gestão pública no sentido de garantir o cumprimento das leis que já existem. Tem sido muita luta, para poucos avanços reais”, diz.
Neste sentido, Nengwa Elza lembra que as comunidades religiosas de matriz africana são também importantes espaços de aquilombamento. “Os terreiros são o local de acolhimento, de resistência, para além da questão religiosa”, pontua. Ela defende que essas comunidades religiosas têm sido, há pelo menos três séculos, responsáveis pela guarda e desenvolvimento da cultura do seu povo, com especial destaque para o papel das mulheres na manutenção e florescimento dessas comunidades.
Durante o encontro, foram realizadas palestras, mesas redondas, oficinas e atividades culturais que visam enriquecer o conhecimento dos participantes e promover a valorização das tradições e práticas das religiões de matriz africana, servindo como espaço para reivindicações políticas e articulações em prol dos direitos das comunidades afro-religiosas.
Era perceptível na reunião uma maioria de mulheres representando suas comunidades e seus estados. Para Nengwa Elza, essa é uma representação da realidade das comunidades de terreiro, que têm uma “cosmopercepção matrilinear”, com maioria de sacerdotisas entre suas líderes comunitárias e religiosas.
Ìyá Márcia defendeu a importância de ter mulheres em espaços como esse. “É garantir a diversidade e a eficácia democrática que assegure políticas públicas que também atendam nossas necessidades”, disse.
As reivindicações e propostas de políticas públicas apresentadas no encontro devem ser compiladas em um documento resultante das discussões realizadas em cada um dos Grupos de Trabalho (GTs) que se formaram durante o evento.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Alfredo Portugal