A prefeita Brigitte García da cidade de São Vicente, no Equador, foi morta a tiros na madrugada deste domingo (24). Ela estava com seu marido, Jairo Loor, que coordenava a comunicação do município. Aos 26 anos, Garcia foi a prefeita mais jovem eleita no pleito de 2023.
Segundo investigações da polícia equatoriana, ela teria recebido três tiros e Loor, dois. Nenhum suspeito foi identificado até a publicação desta reportagem. O assassinato da prefeita vem na esteira de uma série de ataques de grupos armados equatorianos que levaram o presidente Daniel Noboa a decretar estado de exceção e toque de recolher no país em 9 de janeiro.
Garcia ganhou as eleições do ano passado pelo partido Revolução Cidadã, grupo do ex-presidente Rafael Correa, de esquerda, com 35% dos votos. São Vicente é uma cidade litorânea do Estado de Manabí, região com alto índice de violência no país. Com cerca de 37 mil habitantes, a cidade é um ponto estratégico na rota do tráfico internacional.
O presidente Daniel Noboa ainda não fez uma declaração pública sobre o caso. O governo emitiu uma nota condenando as ações e afirmando que “não baixará a guarda na luta contra o terrorismo, o crime organizado e a corrupção política”. O documento diz ainda que o país vai reforçar o “controle da ordem pública até conseguir a paz”.
Desde que assumiu, o empresário prometeu aplicar a receita que Nayib Bukele adotou contra a criminalidade de El Salvador. Com isso, passou a colocar o Exército nas ruas e estabeleceu uma forte repressão. Hoje o país tem uma média de 12 mortes violentas a cada 100 mil habitantes. Mesmo representando uma queda em relação aos números de 2023 –quando o número de mortes violentas chegou a 40 por 100 mil habitantes– os dados ainda são um dos mais altos da região.
Referendo
Como uma das medidas para ampliar a repressão sobre os grupos armados, Daniel Noboa convocou um referendo para perguntar à população sobre a participação de militares no controle de armas, aumento de penas para crime ligados ao crime organizado e até o uso por parte de militares de armas apreendidas.
O referendo, no entanto, extrapola questões de segurança e amplia o debate para uma reforma da Constituição do país. As perguntas foram formuladas pelo próprio presidente e pela emenda constitucional e envolvem a extradição de equatorianos, a participação de arbitragem internacional para resolver questões comerciais e a mudança nas leis trabalhistas para permitir contratos feitos por hora.
A votação será feita em 21 de abril.
Escalada na violência
A crise de segurança no país teve seu estopim com o assassinato do candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio com três tiros na cabeça. O país, que já foi um dos mais seguros do continente, viveu uma escalada de violência durante governos de direita.
Antes do episódio envolvendo o candidato, o então prefeito de Manta foi assassinado. A cidade tem o segundo maior porto do país e também é vista como um ponto estratégico para o tráfico internacional. Ainda no processo eleitoral do ano passado o prefeito de Duran também sofreu um atentado.
A ONU disse em 2022 que o Equador tinha se tornado o terceiro país com a maior quantidade de cocaína apreendida do mundo, atrás de EUA e Colômbia. Segundo o relatório da organização, esse foi um dos fatores que contribuiu com o aumento da violência no país.
Já neste ano, Adolfo Macías Villamar, conhecido como "Fito", líder do grupo criminoso Los Choneros, fugiu da prisão. Uma série de rebeliões foram registradas em vários presídios do país, com agentes penitenciários sendo feitos reféns
Edição: Rodrigo Durão Coelho