A notícia pegou de surpresa as 46 famílias do assentamento Che Guevara, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na manhã desta terça-feira (26), a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) publicou uma portaria em que altera o nome da comunidade. Para o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), agora o assentamento se chama Irmã Dulce. Em nota, MST caracteriza a decisão como "arbitrária" e "autoritária".
Ao descartar o nome escolhido pelos moradores desde o início da década de 1990 – quando foi feita a ocupação na cidade de Mirante do Paranapanema (SP) – o governo paulista, na visão dos sem-terra, busca "descaracterizar o histórico da luta pela terra na região".
"A formação do Assentamento Che Guevara é fruto de uma ocupação de terras realizada pelo MST no dia 1 de novembro de 1991, com mais de 200 famílias de trabalhadores e trabalhadoras oriundas de cidades do interior de São Paulo e do Paraná, tendo a definição de assentamento provisório logo em 1992 e a homologação definitiva em 1994, resultando em um histórico de 30 anos da formação deste assentamento", contextualiza o movimento.
A alteração do nome é possível pois o Itesp, órgão do governo estadual, é responsável pela regularização fundiária da área. Na portaria, assinada pelo diretor-executivo do Itesp, Lucas Bressanin, é feita a argumentação da substituição do nome do guerrilheiro da revolução cubana pelo da freira brasileira. "Foi uma mulher que dedicou sua vida a obras de caridade, trabalhos sociais e assistência aos mais necessitados", diz o documento.
Felinto Procópio, ou Mineirinho, é morador do assentamento Che Guevara e considera que a decisão é "ideológica". "O governo do estado não vai querer dar título para um assentamento com o nome de Ernesto Che Guevara", diz ele em nota publicada pelo MST.
"As famílias estão aqui todas indignadas, com disposição de lutar e resistir para que seja revogado esse decreto", afirma Mineirinho. "Primeiro porque esse nome é um nome que já pertence ao assentamento", salienta, e "segundo porque ninguém foi consultado".
Edição: Thalita Pires