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O Caso Marielle e a contaminação das instituições do RJ

Caso revela que o crime que toma as ruas do Rio fez uma simbiose com o sistema político e a cúpula das das polícias

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O aprofundamento das investigações é fundamental não apenas para punir todos os envolvidos no assassinato de Marielle, mas também para revelar as entranhas da engenharia do crime que tomou o Rio de Janeiro - Nunah Alle/Mídia Ninja/Flickr

Uma doença maligna com o crescimento desordenado de células agressivas, que formaram um tumor que se proliferou e invadiu tecidos da sociedade e do Estado. Agora, em estágio de progressão, se espalha para mais regiões do corpo.

Sim, o Rio de Janeiro é como um corpo doente com um câncer. A prisão de um deputado federal, de um conselheiro do Tribunal de Contas do estado e de um ex-chefe da Polícia Civil pelo brutal assassinato da vereadora Marielle Franco demonstra o quadro de metástase.

O delegado Rivaldo Barbosa, que ocupou diversos postos na área de segurança do estado, simboliza a penetração do crime na cúpula das polícias. Ele não apenas obstruiu investigações de diversos crimes (suspeita-se, inclusive, do caso Amarildo em 2013), como dias antes de tomar posse planejou meticulosamente o assassinato de Marielle, dando orientações em relação ao momento e ao local do crime.

Os irmãos Brazão simbolizam o poder político do crime no Rio de Janeiro. Chiquinho foi vereador, secretário da prefeitura do Rio e exercia o mandato de deputado federal. Domingos foi vereador, deputado estadual e atuava como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, órgão responsável por julgar os gastos do governador.

O caso Marielle Franco desvela que o crime que toma as ruas do Rio de Janeiro fez uma simbiose com o sistema político, a cúpula das polícias e a burocracia estatal. Não é possível distinguir organização criminosa, governos e Estado, que formulam um "ecossistema criminoso", como classificou o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino.

Assim, o Rio de Janeiro chegou a uma situação dramática e vive uma barbárie. No ano passado, registrou 4.257 casos de ocorrências de letalidade violenta, que englobam homicídios dolosos, lesão corporal seguida de morte, latrocínio e morte por intervenção policial, de acordo com o ISP (Instituto de Segurança Pública). 

Os homicídios dolosos somaram 3.283 casos, o equivalente a quase nove mortos por dia. Foram 869 casos de mortes por intervenção policial. O número de pessoas desaparecidas ficou em 5.815 casos, enquanto o de ocorrências de extorsão chegou a 3.264.

No Rio de Janeiro, o Estado não é apenas conivente com esse quadro de violência. É cúmplice das organizações criminosas. Desde 2008, Barbosa é o quarto ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro preso por envolvimento em crimes, como corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e relação com o jogo do bicho.

As instituições públicas estão contaminadas e não têm condições de combater essa situação. No final das contas, fazem parte do esquema. Por isso, a investigação dos mandantes do assassinato de Marielle só obteve êxito, depois de seis anos, pela atuação firme de um órgão com comando fora do Rio de Janeiro, a Polícia Federal, que entrou no caso em fevereiro de 2023, sob a direção do governo Lula. 

O aprofundamento das investigações é fundamental não apenas para punir todos os envolvidos no assassinato de Marielle, mas também para revelar as entranhas da engenharia do crime que tomou o Rio de Janeiro. Com o esquadrinhamento do diagnóstico da metástase, de células cancerígenas que se soltaram do tumor original, foram para outras partes e formam novos tumores, será possível começar o tratamento da doença e levá-lo até às últimas consequências.

Alguém acredita que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, tem compromisso e força política para fazer as transformações profundas necessárias? Ele tem alguma autonomia para romper o nexo entre poder econômico, organizações criminosas, sistema político e burocracia estatal? 

O Rio de Janeiro precisa de ajuda e terá que passar por um duro, pesado, desgastante e longo tratamento. Não há saída com medidas cosméticas, pontuais ou paliativas. A cura desse câncer com metástase depende, sobretudo, de uma intervenção do governo federal e do Supremo Tribunal Federal no estado, sob o risco da doença se espalhar para todo o país.

* Igor Felippe Santos é jornalista e analista político com atuação nos movimentos populares.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato